12 março 2024

Mil e uma (32)

 (Continuação daqui)

Mapa religioso da Europa


32. O mais puro e genuíno


Todos os países da Europa Ocidental que, a seguir à Reforma Protestante do século XVI, permaneceram predominantemente católicos tinham fronteiras com países de cultura protestante e, através desse contacto directo, foram mais ou menos influenciados pelo protestantismo.

Só existiu uma excepção a esta regra.

A regra era clara na Irlanda que vivia rodeada do protestantismo das Ilhas Britânicas, e também na Áustria que tinha ali ao lado a Alemanha, a pátria de Lutero. A muito católica Polónia também confinava com a protestante Alemanha. A Itália, onde se situa a sede do catolicismo, a norte faz fronteira com a Suíça, que é a pátria de Calvino.

A Espanha tinha na altura o maior império do mundo que, na Europa, se estendia até à Holanda, um dos focos do protestantismo. Foi a Espanha que, pela dimensão do seu império, assumiu a defesa do catolicismo contra o protestantismo, quer na Europa, quer na América, e a defesa não foi só de natureza teológica e intelectual, mas também envolveu guerras sangrentas onde se perderam milhões de vidas.

A França ficou no olho do furacão, e foi o centro de todos os conflitos. A norte e a leste, o luteranismo dos países escandinavos e da Prússia. A oeste, o anglicanismo e o calvinismo britânico. A sul, o catolicismo ibérico. Havia de ser em França que teria lugar o acontecimento político que resumia as rivalidades e as guerras religiosas entre católicos e protestantes - a Revolução Francesa (1789). 

Na Assembleia Constituinte que resultou da Revolução, os católicos sentaram-se à direita do rei e os protestantes à esquerda. É uma dicotomia que permanece até hoje, a direita é católica, autoritária, personalista, comunitária; a esquerda é protestante, democrática, impessoal, individualista.

Sem qualquer contacto directo com este conflito com o protestantismo, ficou apenas um país católico da Europa, a única excepção - Portugal. A Espanha serviu-lhe de tampão e protegeu-o da influência das ideias protestantes, e também das guerras religiosas.

Neste sentido, Portugal é bem capaz de ser o mais puro e genuíno país católico da Europa. 

Se é verdade que a democracia é uma instituição anti-católica e que, a prazo, não tem viabilidade nos países de tradição católica, então essa verdade será ainda mais verdade no mais puro e genuíno dos países católicos da Europa e talvez mesmo do mundo - Portugal. 

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