04 março 2024

ID, EGO & SUPEREGO

 

As sociedades parecem caóticas e contraditórias, aceitando e promovendo princípios antagónicos e irreconciliáveis. As migrações bíblicas não são compatíveis com o bem-estar e segurança das populações, o esbulho fiscal não é compatível com o desenvolvimento económico e a promoção/legalização do aborto não é compatível com o crescimento demográfico.

 

Os legisladores, ao aprovarem legislação contraditória, espelham contradições populares, de quem quer “guardar o bolo e comê-lo”, sem entender a realidade. Espelham incongruências do inconsciente – ID – individual, que se manifesta na cultura como o produto agregado a que poderíamos chamar o inconsciente coletivo. Freud considerava que o ID era animado pelo Princípio do Prazer e que ignorava a realidade.

 

O ramo executivo do governo tem a responsabilidade de administrar o país, dentro do quadro imposto pelos legisladores, mas limitado pelo Princípio da Realidade. A Lei, por exemplo, pode determinar que todos têm direito à habitação, mas o executivo está limitado pelos recursos disponíveis e pelas múltiplas solicitações que se contradizem e que funcionam como um colete de forças. Neste aspecto o executivo funciona como o EGO, impulsionado pelo ID, mas limitado pelo Princípio da Realidade.

 

O ramo judicial contrabalança o poder legislativo e o poder executivo, impondo limites à atuação de ambos. Assemelha-se ao conceito de SUPEREGO, que impõe valores morais ao ID e ao EGO. Os impulsos populares (ID), qualquer que seja o modo como são administrados, têm de ser travados por valores sociais e morais sob pena de cairmos na barbárie. Talvez por isto, a corrupção do sistema de justiça seja a mais gravosa de todas.

 

Sem um forte ramo judicial, os restantes transformam-se numa máfia com o monopólio da violência contra uma população desarmada.

 

Montesquieu (The Spirit of the Laws – 1748) que é considerado o pai do sistema de divisão de poderes – Trias Politica, quase reproduziu a estrutura da mente, com o seu inconsciente (legislativo), ego (executivo) e superego (judicial).

 

Tal como as sociedades se apresentam caóticas e contraditórias, também a mente humana se debate constantemente com pulsões conflituosas que temos de gerir com os recursos psicológicos disponíveis e num quadro de valores morais.

 

Tal como temos de aceitar viver com um certo caos, também temos de aprender a viver com as nossas próprias contradições. Talvez a mente humana não seja perfeita, talvez as sociedades encerrem demasiada entropia, mas é o que temos.


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