(Continuação daqui)
37. É obra
Como já referi, um dos principais choques que tive durante este processo ocorreu logo no Tribunal de Matosinhos. Eu tinha entrado para lá a pensar que um tribunal era uma instituição solene e um templo de verdade, e saí de lá a pensar que, afinal, era um antro de mentira, onde as mentiras pareciam jorrar até das paredes.
Houve três mentiras sequenciais e referentes ao mesmo assunto que, postas em conjunto, produziram um resultado muito engraçado. Tiveram como protagonistas os advogados Paulo Rangel (director da Cuatrecasas-Porto), Filipe Avides Moreira (sub-director) e António Ferreira, presidente do Hospital de São João.
A todos, o magistrado do MP perguntou quando é que tinham tomado conhecimento do meu comentário (que fora produzido no dia 25 de Maio de 2015, uma segunda-feira, no Porto Canal, cerca das 20:30).
António Ferreira respondeu que não tinha visto o comentário. O magistrado do MP - o célebre magistrado X - ainda insistiu: "Mas não viu na altura, ou nunca viu?", ao que ele respondeu: "Nunca vi". A esta testemunha, o magistrado X ainda perguntou se tinha telefonado a alguém a falar sobre o assunto, ao que ele respondeu que não.
A mesma pergunta, acerca de quando é que tinha tomado conhecimento do meu comentário, tinha sido colocada antes ao Paulo Rangel. Respondeu que tinha tomado conhecimento do meu comentário no dia seguinte de manhã pelo Professor António Ferreira que lhe telefonou muito aflito.
Finalmente, a pergunta foi colocada ao Filipe Avides Moreira, que respondeu que tinha tomado conhecimento do comentário no próprio dia, cerca das 10:30 da noite pelo Paulo Rangel, que lhe telefonou.
Em suma. O Paulo Rangel soube do comentário no dia seguinte por um telefonema do António Ferreira que não o viu e não telefonou a ninguém sobre ele, e por um milagre de Deus, na mesma noite do comentário, o Paulo Rangel telefonou ao Avides Moreira a dar-lhe conhecimento.
É obra.
(Na altura, ainda o julgamento estava a decorrer, deixei o episódio registado num post que, rapidamente se tornou muito popular: cf. aqui. Este post contribuiu para que a acusação passasse a queixar-se insistentemente ao juiz que eu andava a comentar o julgamento no blogue, uma queixa que me enchia de prazer).
(Continua acolá)
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