28 fevereiro 2024

Mil e uma (15)

 (Continuação daqui)



15. A cabeça

O protestantismo cortou com a Igreja Católica que é a instituição que dita as verdades ao povo. Uma das consequências mais importantes deste corte foi a de obrigar o povo a procurar as verdades por si próprio.

Acabou-se o comodismo do povo católico que fica à espera que a elite da Igreja lhe venha dizer o que é verdade e o que não é verdade. Acabaram-se as verdades institucionais que vinham de cima e determinavam aquilo em que cada um devia acreditar. Esta tradição deixou no povo de cultura católica uma consequência trágica. Do ponto de vista intelectual, a Igreja fez do povo um rebanho de paspalhos.

Para os protestantes, a mensagem foi enérgica. Quem queria conhecer a Verdade tinha de a procurar e o principal instrumento estava mesmo ali à mão - a cabeça de cada um. Que cada um fizesse uso da sua cabeça para estudar as Escrituras, reflectir sobre elas e discuti-las com os outros igualmente interessados na busca da Verdade.

Em comparação com os países católicos, a subida da literacia do povo foi vertiginosa nos países tocados pela influência protestante. Mas não apenas isso. O mais importante foi a cultura de investigação, reflexão e discussão racional inspirada pelo protestantismo e a confiança das pessoas comuns na sua própria cabeça.

Desde então, praticamente todos os progressos da ciência, todos os progressos da tecnologia, todas as inovações sociais vieram dos países protestantes. O automóvel, o avião, a televisão, o ar condicionado, os medicamentos que prolongam a vida, o computador, a internet, o caminho para a lua, o telemóvel, as vacinas covid, a lista é sem fim. As próprias ciências sociais, como a Economia, nasceram nesses países.

Ao contrário dos povos de cultura protestante, os povos de cultura católica continuaram comodamente à espera que as verdades viessem ter com eles e, à excepção de uma pequena elite, permaneceram sem hábitos de estudo, de investigação, de reflexão e de discussão racional. 

É este povo sem hábitos de estudo, de investigação, de reflexão e de discussão racional que a democracia liberal em Portugal chama agora para governar o país e definir os seus caminhos para o futuro.

Não vai dar resultado. Já falhou no passado e vai voltar  a falhar. É uma questão de tempo. Enquanto a Igreja Católica existir em Portugal, a democracia não triunfa. E entre a Igreja e a democracia, o povo português já deu provas passadas de qual prefere - a Igreja.

(Continua acolá)

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