06 fevereiro 2024

A crise da democracia partidária (4)

 (Continuação daqui)




4. O caça-partidos

Há dez anos que o Ministério Público quer meter um ex-primeiro ministro na cadeia. 

Recentemente, o Ministério Público levou à destituição do primeiro-ministro da nação, à destituição do presidente de um governo regional, e já se perdeu a conta de quantos presidentes de Câmara foram postos fora dos seus cargos por acção do Ministério Público.

Nenhuma outra instituição em Portugal tem contribuído tanto para desprestigiar os partidos, a democracia partidária e os políticos eleitos como o Ministério Público.

Existem actualmente cerca de 1700 magistrados do Ministério Público no país (cf. aqui), dos quais cerca de dois terços são mulheres. A questão a que pretendo responder é a seguinte:

-"Se em lugar destes 1700 homens e mulheres, os magistrados do Ministério Público fossem 1700 homens e mulheres diferentes dos anteriores, a situação seria substancialmente diferente?".

A resposta é um conclusivo não. Seria aproximadamente igual.

A razão é que os actuais 1700 magistrados do Ministério Público são tão portugueses como todos os outros portugueses, e desconfiam dos partidos tanto quanto os outros portugueses. Estes 1700 magistrados ou outros no seu lugar não fariam diferença nenhuma. É uma questão de cultura e não de pessoas.

O Ministério Público continuaria a ser um verdadeiro caça-partidos.

Este carácter de caça-partidos do Ministério Público tem vindo a acentuar-se nos últimos anos à medida que o número de mulheres na magistratura do Ministério Público tem aumentado, as quais representam hoje cerca de 65% do total. É que, na cultura católica de Portugal, sendo a mulher o símbolo e o paradigma do sentimento comunitário, são as mulheres, muito mais do que os homens que não gostam dos partidos e da democracia partidária.

(Continua acolá)

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