GESTÃO DA SAÚDE VI
Não há almoços grátis
A questão não é se há almoços grátis, a questão é saber quem enche o bandulho e quem paga a conta.
O golpe perfeito no sistema de saúde são os almoços grátis, digo: a oferta de equipamentos valiosos, a custo zero, que depois determinam a compra de consumíveis dispendiosos. Deixem-me dar alguns exemplo (hipotéticos, claro).
Uma empresa que vende lentes intraoculares para operações às cataratas oferece um equipamento para facoemulsificação no valor de 100.000,00 € a uma unidade do SNS. O equipamento é colocado de forma gratuita, mas a empresa beneficia da venda de consumíveis num valor que justifica a “oferta”.
A iliteracia financeira da populaça não só permite estes cambalachos como ainda facilita a propaganda em torno do novo equipamento.
— Quem enche o bandulho? — a empresa.
— Quem paga? — o contribuinte.
Pelo caminho, médicos, administradores e políticos, também extraem os seus benefícios, de forma directa (médicos) ou indireta (políticos).
Outro exemplo?
As laparoscopias. Intervenções que há 10 anos se faziam quase sem consumíveis, como apendicectomias e herniorrafias, hoje são executadas por via laparoscópica, com material dispendioso (de um só uso recomendado).
Os custos explodiram, mas os benefícios para os utentes são marginais e nalguns casos “negativos” (mais complicações).
O sector privado também alinha neste fenómeno quando garantem contratos lucrativos com o Estado, pagos por acto. A empresa benemérita tem influência junto dos governos e pode meter uma cunha (alegadamente).
Noutras áreas, abertas à concorrência e ao mercado, estas negociatas não ocorrem porque a gestão não se deixa cooptar pelos fornecedores. Quem gere os recursos públicos, porém, não está atento a estes detalhes — é dinheiro dos outros gasto em “proveito” dos outros (Milton Friedman).
Há corrupção nestes casos?
Se fosse num país do Norte da Europa, com certeza. Em Portugal não, a empresa está a ajudar os utentes e a aproveitar uma oportunidade, devemos estar agradecidos por tanta bondade.
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