GANGUES
É muito útil, embora não seja original, estudar a organização dos gangues para ajudar a compreender as sociedades do século XXI.
Pensemos nos conceitos de território, identidade e hierarquia, fundamentais para os gangues prosseguirem a sua atividade criminosa e extrapolemos para os conceitos de Estado, nacionalidade e governo.
O Estado é o território (turf) onde os governos desenvolvem a sua atividade. São áreas bem delimitadas e a invasão de um Estado por outra provoca violência. Mais ou menos o que acontece quando um gangue invade o território alheio.
A nacionalidade é a identidade do Estado. Tem os seus símbolos, com logotipos e bandeirinhas, e espera-se que o membro de um gangue esteja disposto a dar a vida pelos comparsas. Apela-se a um tribalismo que nunca abandonou o Homo Sapiens.
Quando um Estado engloba diversas nacionalidades surgem problemas de território e disputas que levam a guerras (de gangues ou civis).
Por fim, todos os gangues têm as suas hierarquias, que correspondem aos governos. As constituições preveem estatutos especiais para os governantes, que passam pela imunidade e por tribunais especiais.
Quando a populaça levanta o focinho surgem os Estados de Emergência e os Estados de Sítio, para a encabrestar. Em EE ou ES, qualquer cidadão pode ser detido ilimitadamente sem quaisquer justificações.
Dentro de um gangue há sempre serviços de informação, que muitas vezes não passam de coscuvilhice e rumores, mas os “Bosses” atuam para não parecerem fracos e dar um exemplo.
Os Estados também têm os seus serviços de informação e espiam constantemente os cidadãos. Tal como nos gangues, também atuam baseados em coscuvilhice e rumores, a que agora se chama desinformação. Um meme pode dar cadeia!
As atuais guerras fazem muito mais sentido se pensarmos nelas como lutas por território. A Ucrânia é para travar o Putin, Taiwan é para travar o Xi, porque o ocupante da Casa Branca quer que o Globo seja a sua “turf”. Na linguagem dos gangues todos querem ser os “Capo di Tutti Capi”.
Os gangues têm códigos de conduta a que poderíamos chamar a ordem baseada em regras (Rules Based Order), mas é evidente que nenhum capo consegue impor as suas regras aos outros sem ser for à força.
Nesta perspectiva só há uma coisa que desapareceu completamente:
— A DECÊNCIA HUMANA!
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