13 dezembro 2023

ANATOMIA

ANATOMIA




A grande divisão entre ciências e letras, que se arrasta desde o liceu até ao ensino superior, é um retrocesso monumental sobre a formação clássica.


O aluno era iniciado com o Trivium (gramática, lógica e retórica – em Latim), passava ao Quadrivium (aritmética, geometria, música e astronomia) e alargava depois os seus conhecimentos à filosofia (que englobava a medicina), à física e à metafísica.


A universidades ensinavam a estudar e a pensar e cobriam todas as áreas do conhecimento. Este ensino, dito Escolástico, contribuiu para o Renascimento e formou gigantes como Copérnico e Newton.


A Revolução Científica, com o desenvolvimento das diferentes disciplinas, contribuiu para o seu “divórcio”, especializando os estudantes, mas isolando-os da sabedoria que só se pode obter através do universalismo do conhecimento.


É assim que surgem os bacharéis e os licenciados, do direito, das engenharias, da saúde e das letras, profundamente ignorantes no que diz respeito a conhecimentos básicos. Médicos que nada sabem de filosofia ou de literatura e estudantes de letras que são incapazes de localizar o fígado ou o baço.


Penso que isto é uma tragédia, que se pode considerar um retrocesso monumental. Este retrocesso, porém, não afecta por igual todos os países nem todas as universidades.


O sistema anglo-saxónico manteve uma enorme flexibilidade e as grandes instituições permitem aos alunos uma verdadeira formação interdisciplinar. É nos países com menos recursos que o ensino parece mais técnico e os estudantes têm menos oportunidades. Este problema necessita de correção urgente!


Para quem nunca entrou num Teatro Anatómico, recomendo vivamente qualquer uma das muitas exposições itinerantes com modelos dissecados do corpo humano. São uma forma de arte e podem ajudar a colmatar as deficiências do ensino.


Os modelos são plastificados (um processo chamado plastinação, inventado pelo anatomista Gunther von Hagens) e preparados para exibir os órgãos e os sistemas do corpo humano.

 

Quem contempla uma obra de arte não deve ficar apenas por assinar a presença. É um ponto de partida para pensar, ampliar os conhecimentos e prosseguir para outras disciplinas descuradas.

 

Formação é motivação e as obras de arte podem ser o gatilho da curiosidade renascentista.

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