(Continuação daqui)
10. O 7 de Novembro
Quem são os contra-revolucionários que deitaram abaixo um governo democrático legitimamente eleito, ainda por cima com maioria absoluta? Quem são, afinal, esses heróis mais poderosos do que o próprio povo, que decidem quem pode e quem não pode ser governo no país?
São burocratas que, como todos os burocratas, se promovem na profissão por antiguidade, de acordo com o critério do vinho do Porto, segundo o qual, quanto mais velho melhor.
Pertencem ao Ministério Público, a instituição que foi criada em 1832 para suceder à Inquisição, extinta em 1821 com a Revolução Liberal. Foi uma daquelas reformas das instituições em que os portugueses são especialistas, em que se mudam os nomes mas o resto fica tudo na mesma.
Por isso, eu tenho chamado ao Ministério Público "A Inquisição dos Tempos Modernos", para além de outras designações menos agradáveis, como "A PIDE da Democracia" ou "O Diabo à Solta", em todos os casos enfatizando que se trata de uma corporação de criminosos - uma realidade para a qual só agora o país parece despertar.
Ao Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) que está no coração do Ministério Público, eu tenho chamado "A Sede da Inquisição" porque é daí que surgem as piores malfeitorias que a moderna Inquisição é capaz de perpetrar, como agora aconteceu.
Pois bem, os nossos três heróis pertencem precisamente ao DCIAP. Dois deles têm a categoria de Procuradores da República, que é a categoria intermédia da carreira do Ministério Público, abaixo de Procurador-Geral Adjunto (a categoria mais alta, onde se ganha mais que a primeiro-ministro) e acima de Procurador Adjunto (a categoria mais baixa). O terceiro possui esta última categoria.
O chefe do triunvirato chama-se João Paulo Anastácio Centeno, é 127º na lista de antiguidades dos Procuradores da República (cf. aqui), tem 56 anos de idade e 11 anos de experiência na categoria, sendo especializado em crime violento, como convinha à situação presente. Nasceu - imagine-se! - no dia 25 de Abril e vem de uma das regiões mais revolucionárias do país - o Alentejo -, concretamente de Campo Maior, a terra do Café Delta.
Ele ficará para a história como o grande revolucionário do 7 de Novembro.
Muito mais abaixo na lista de antiguidades, na posição 540ª, vem o seu primeiro ajudante, Nelson Hugo da Silva Neto, natural de Lisboa, com 46 anos de idade e apenas três anos de experiência na função.
E mais abaixo ainda, na posição 985ª, vem o outro ajudante, Ricardo Rodrigues da Costa Correia Lamas, o mais júnior de todos, 41 anos de idade, natural de Lisboa, com a categoria de Procurador Adjunto e 11 anos de experiência nesta categoria.
São estes três revolucionários - ou contra-revolucionários, como se pretenda -, que no dia 7 de Novembro de 2023 deitaram abaixo o XXIII Governo Constitucional saído da Revolução de 25 de Abril de 1974.
(Continua acolá)
Sem comentários:
Enviar um comentário