(Continuação daqui)
6. Uma cultura de cunhas
"Marcelo nega cunha", diz a comunicação social (cf. aqui). Mas não devia negar porque a cunha é uma instituição nacional e ele, como Presidente de todos os portugueses, devia saber isso.
Na cultura protestante do norte da Europa onde foi inventada a democracia, e que nos últimos 50 anos nós decidimos imitar em Portugal, nem a Virgem Maria nem os Santos são venerados. Somente Cristo. É o princípio protestante "Solo Christo".
Nessa cultura, que nós pretendemos plagiar, a relação entre o crente e Deus é uma relação directa. Quem pretende pedir alguma coisa dirige-se directamente a Deus. Não há intermediários.
Na cultura portuguesa, que não é nem democrática nem protestante, mas católica, tudo é diferente. A cultura católica utiliza intermediários para chegar a Deus, sendo a Virgem Maria e os Santos os principais, mas os padres também são utilizados como tal.
Por exemplo, perante uma doença grave de um familiar, os portugueses não pedem directamente a Deus. Eles vão a Fátima pedir a Nossa Senhora, ou rezam ao seu Santo de eleição, para que interceda junto de Deus a fim de lhes curar o familiar.
Ao fazer isto, aquilo que eles estão a fazer, na realidade, é meter cunhas à Virgem Maria e aos Santos para que intercedam junto de Deus a seu favor.
A cultura católica e portuguesa é uma cultura de cunhas. Mas como nós decidimos imitar a cultura protestante e democrática, para a qual nunca estivemos vocacionados, aquilo que é perfeitamente normal para um português - meter uma cunha - tornou-se um acto criminoso numa democracia.
Por isso, devemos desculpar o Presidente porque nesta questão das cunhas ele é tão português como os outros. E, tal como os outros, também gosta de armar em democrata.
No fim, a questão é esta. Se todos os portugueses metem cunhas por que é que o Presidente da República, que os representa a todos, não pode meter a sua cunhazita? E se até um vulgar português mete cunhas a Nossa Senhora de Fátima por que é que o Presidente da República não pode meter uma cunhazita a uma mera Ministra da Saúde?
Era só o que faltava!
(Continua acolá)
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