SEGUNDA ADOLESCÊNCIA
Problemas da adolescência:
1. Criação de identidade
2. Emocionalismo
3. Aventureirismo
4. Tribalismo
5. Independência e autonomia
6. Desenvolvimento moral
7. Crises de identidade
8. Crises profissionais
9. Envolvimento nas redes sociais
10.Experimentação sexual
11.Imagem física e autoestima
12.Rebelião e inconformismo
Em postes anteriores abordei a questão da reforma e de como esta não deve ser encarada como um problema, mas sim como uma oportunidade. Aqui e aqui.
Esta perspectiva, contudo, coloca o sexagenário (ou septuagenário no meu caso) no desconfortável lugar do adolescente. Como disse, o ‹‹que queres ser quando fores grande?›› passa a ‹‹o que queres ser quando te reformares?››.
Como a reforma está relacionada com o fim de uma profissão, qualquer nova atividade exige a criação de uma nova identidade. No meu caso, abandonei a “bata branca” e os “scrubs” e passei a dedicar-me sobretudo à escrita. Também pendurei os blazers no guarda-vestidos e passei a andar de T-shirt e sapatilhas. Parece-me uma indumentária mais adequada à identidade que estou a criar.
Um certo aventureirismo é necessário porque as fontes de rendimento diminuem e, por vezes, as novas oportunidades estão a milhares de quilómetros do lar. Uma das oportunidades que contemplei (e que ainda não descartei) seria continuar a exercer clínica pro bono, em países carenciados de África ou da América do Sul. Em jovem teria adorado esta atividade, mas lá está... as responsabilidades familiares nunca o permitiriam.
Muitos seniores também caem no experimentalismo sexual. Creio que especialmente quando não tiveram uma adolescência e vida adulta normal. Para os baby boomers este problema não deve ser muito frequente porque passaram por Woodstock ou pelo nosso paroquial Vilar de Mouros.
Por fim o problema da independência e da autonomia. Quem procura novas atividades e até criar uma identidade mais adequada à reforma, vai ter de se confrontar com uma resistência significativa por parte da família e até dos amigos. ‹‹Estás um velho gagá›› — dirá a patroa ou ‹‹Vê lá no que te metes, conheço um médico que foi voluntário para a Síria e que acabou com um tiro nos cornos››.
Neste aspecto, o reformado necessita de uma forte autonomia, com locus interno e determinação. Vou passar a resto da vida no dominó e nas “postas de pescada” ou vou dedicar-me a algo a que sempre aspirei, mas que pus de lado pelos imperativos sociais e familiares? Cada um sabe de si.
Na minha perspectiva, a designação “terceira idade” deve ficar reservada para a malta do dominó. Os que buscam novas oportunidades estão a viver uma “segunda adolescência”, com todos os problemas dessa fase na vida, embora numa dialética mais evoluída.
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