08 outubro 2023

Segunda Adolescência

 SEGUNDA ADOLESCÊNCIA


 

 

Problemas da adolescência:

 

1.    Criação de identidade

2.    Emocionalismo

3.    Aventureirismo

4.    Tribalismo

5.    Independência e autonomia

6.    Desenvolvimento moral

7.    Crises de identidade

8.    Crises profissionais

9.    Envolvimento nas redes sociais

10.Experimentação sexual

11.Imagem física e autoestima

12.Rebelião e inconformismo

 

 

Em postes anteriores abordei a questão da reforma e de como esta não deve ser encarada como um problema, mas sim como uma oportunidade. Aqui e aqui.

 

Esta perspectiva, contudo, coloca o sexagenário (ou septuagenário no meu caso) no desconfortável lugar do adolescente. Como disse, o ‹‹que queres ser quando fores grande?›› passa a ‹‹o que queres ser quando te reformares?››.

 

Como a reforma está relacionada com o fim de uma profissão, qualquer nova atividade exige a criação de uma nova identidade. No meu caso, abandonei a “bata branca” e os “scrubs” e passei a dedicar-me sobretudo à escrita. Também pendurei os blazers no guarda-vestidos e passei a andar de T-shirt e sapatilhas. Parece-me uma indumentária mais adequada à identidade que estou a criar.

 

Um certo aventureirismo é necessário porque as fontes de rendimento diminuem e, por vezes, as novas oportunidades estão a milhares de quilómetros do lar. Uma das oportunidades que contemplei (e que ainda não descartei) seria continuar a exercer clínica pro bono, em países carenciados de África ou da América do Sul. Em jovem teria adorado esta atividade, mas lá está... as responsabilidades familiares nunca o permitiriam.

 

Muitos seniores também caem no experimentalismo sexual. Creio que especialmente quando não tiveram uma adolescência e vida adulta normal. Para os baby boomers este problema não deve ser muito frequente porque passaram por Woodstock ou pelo nosso paroquial Vilar de Mouros.

 

Por fim o problema da independência e da autonomia. Quem procura novas atividades e até criar uma identidade mais adequada à reforma, vai ter de se confrontar com uma resistência significativa por parte da família e até dos amigos. ‹‹Estás um velho gagá›› — dirá a patroa ou ‹‹Vê lá no que te metes, conheço um médico que foi voluntário para a Síria e que acabou com um tiro nos cornos››.

 

Neste aspecto, o reformado necessita de uma forte autonomia, com locus interno e determinação. Vou passar a resto da vida no dominó e nas “postas de pescada” ou vou dedicar-me a algo a que sempre aspirei, mas que pus de lado pelos imperativos sociais e familiares? Cada um sabe de si.

 

Na minha perspectiva, a designação “terceira idade” deve ficar reservada para a malta do dominó. Os que buscam novas oportunidades estão a viver uma “segunda adolescência”, com todos os problemas dessa fase na vida, embora numa dialética mais evoluída.

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