05 outubro 2023

65

 


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Os portugueses começam a contar os dias para a reforma no primeiro dia do primeiro emprego. É chocante ouvir uma jovem vintanera afirmar isto mesmo, mas é a nossa realidade.

 

Claro que o tempo passa num abrir e fechar de olhos e os anseios da juventude acabam por se concretizar, mais depressa do que se imagina, só que com uma “pequena diferença” que a leviandade juvenil não contemplava: Quando se chega à reforma a juventude já murchou e a perspectiva da vida é radicalmente diferente.

 

Imagino que a tal vintanera sonha com férias nas Maldivas e margaritas ao pôr do Sol, abolida a escravatura do trabalho e criada a família. A realidade, porém, é que aos 65 são mais prováveis os dias na Malveira do que nas Maldivas e que o pôr do Sol não parece tão romântico.

 

Devemos aproveitar ao máximo o tempo que vivemos, no presente (mindfulness), sem remoer no passado nem alimentar esperanças infundadas no futuro. Desfrutar da felicidade imensa de estar vivo e atento a tudo que nos rodeia no momento.

 

Dito isto, voltemos à reforma. Enquanto não devemos acreditar em Paraísos na Terra, também não devemos enterrarmo-nos precocemente, na cápsula (cacoon) da zona de conforto a “comer postas de pescada”.

 

Encerrado o ciclo da vida (mais) ativa, que fazer?

 

Neste ponto o reformado está no lugar do adolescente em começo de vida, quando este contempla uma atividade profissional. Que queres ser quando fores grande? Converte-se no: Que queres ser quando te reformares?

 

Ouvimos muitas vezes as pessoas dizerem que gostariam de voltar à juventude, ‹‹se soubessem o que sabem hoje››. Pois o reformado, nos seus viçosos 65 anos, está em condições de se fazer a um novo ciclo de vida, ‹‹sabendo o que sabe hoje››.

 

A reforma deve deixar de ser vista como um problema, ou uma desilusão para os sonhos das tais vintaneras, para passar a ser encarada como uma chance.

 

A principal limitação é a necessidade de abandonar a tal zona de conforto, a estrutura em que passamos 40 anos de vida (dos 25 aos 65) e aventurarmo-nos em novos projetos, mas pensem bem: Qual é a alternativa?

 

O Maurice Chevalier, um ator e humorista dos anos 50, lamentou-se um dia que era uma m*rda envelhecer. Demorar uma eternidade a sair da cama, sentir todos os ossos rangerem quando nos levantamos, arrastarmo-nos até à casa de banho... Mas depois, como bom humorista rematou: ‹‹Mas pensem na alternativa!››.



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