AS SETE VIRTUDES FATAIS
VERDADE, FAMÍLIA, LEALDADE, SINCERIDADE, HONESTIDADE, MODÉSTIA, JUSTIÇA
Enquanto os pecados são fáceis de identificar e até de perdoar, se não passarem de pecadilhos ocasionais, as virtudes podem ser tão ou mais danosas do que os pecados, se forem elevadas a compasso final do comportamento humano e desculpa para ofensas.
Por ser do Porto, vou arrancar com a sinceridade, que na Invicta serve de desculpa para a boçalidade (desculpem a rima).
O portuense é um tosco por natureza. Não cultiva a boa educação, nem o “charme discreto” que é necessário para as redes sociais e é alérgico àquela hipocrisia benigna que nos leva a dizer Bom Dia a quem desejamos, na realidade, o pior dia possível.
Em sua defesa o portuense explica que é muito sincero e que odeia a hipocrisia. Se contestarmos pergunta-nos logo se somos hipócritas.
Uma pequena história serve para ilustrar esta minha perspectiva.
Em Lisboa, nos anos 80, recordo-me de estar a tomar café com um colega mais velho quando este de desfez em cortesias para com um diretor de serviço que por nós passou. Mal este virou costas o meu colega confidenciou-me: ‹‹Este gajo é o maior filho da p*ta que podes imaginar››.
Alguns anos mais tarde, numa cena similar no Porto, o meu colega ao ver passar um diretor de serviço disse-me: ‹‹Vou virar as costas a este c*brão para não o cumprimentar››.
O colega lisboeta foi um pouco hipócrita e o portuense foi muito sincero, mas também mal-educado que se farta.
Poderia dar mais exemplos, mas penso que já ilustrei o meu ponto de vista. Uma virtude como a sinceridade pode ser fatal, se for usada para dar cobertura a maus comportamentos.
Estou a defender a hipocrisia: com certeza. Mais vale a hipocrisia do que a boçalidade, nem que esta venha etiquetada de sinceridade.
Há anos, um saudoso professor de medicina por quem nutro grande estima disse-me:
— Quando uma doente me diz ‹‹eu vou ser muito sincera›› eu atalho logo: então vai ser muito inconveniente.
Não me canso de repetir esta citação. Há virtudes fatais.
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