GREVES ILEGAIS
As greves dos funcionários públicos deviam ser ilegais. Penso que qualquer pessoa de bom senso compreenderá as razões.
As greves são um instrumento de disputa entre os diversos “stakeholders” de uma empresa. Os trabalhadores por um lado, que procuram ganhar mais e ter melhores condições laborais e os acionistas (ou donos da empresa) do outro lado, que pretendem maximizar os lucros e diminuir os custos.
Falei em “stakeholders” porque as greves afetam também os consumidores, empresas concorrentes, entidades reguladoras, etc.
A disputa básica, porém, é entre pagadores e cobradores, por assim dizer. Entidades com interesses aparentemente opostos. Digo aparentemente porque os acionistas têm muito pouco interesse em conflitos e procuram evitá-los, tal com o os trabalhadores, daí que a greve seja um último recurso.
Tal como a guerra é a prossecução da diplomacia por outros meios, as greves são a prossecução das negociações por outros meios. Se possível, guerras e greves devem ser evitadas por serem sempre disruptivas.
Voltando ao caso dos funcionários públicos. Estes não estão em disputa com uma entidade com interesses antagónicos. Os governos têm os seus interesses alinhados com os funcionários públicos e normalmente são generosos. Como diria o Milton Friedman, estão a gastar dinheiro dos outros (da população via impostos) com os outros. Daí que o ordenado dos funcionários públicos seja normalmente mais elevado do que no sector privado — cerca de 30%.
Então as greves dos funcionários públicos não são uma disputa?
Sim, mas são uma disputa com o povo, com os pagantes de impostos. Ao fazerem greve, os funcionários públicos estão em guerra contra a população e uns contra os outros, porque se o Estado gastar mais num sector, tem de cortar noutro.
Nos EUA, as greves dos funcionários públicos são ilegais e políticos da esquerda e da direita, como Roosevelt e Reagan, convergiam neste ponto.
Penso que em Portugal será impossível ilegalizar as greves dos funcionários públicos. Desde logo porque muitos dos governantes (quase todos?) também são funcionários públicos e em segundo lugar porque também fazem os possíveis por esmifrar a populaça.
Abro uma exceção para os próprios governantes, que se entrassem todos em greve Portugal passaria muito melhor.
Sem comentários:
Enviar um comentário