PORTUGAL NO DIVÃ
Se Portugal fosse uma sociedade saudável não precisaria do divã, apesar de ser sempre bom conhecermo-nos tanto quanto possível.
É o ‹‹conhece-te a ti mesmo››, uma máxima atribuída a Chilon, um dos Sete Sábios Gregos, que foi imortalizada no Templo de Apolo, em Delfos.
Portugal, porém, não é uma sociedade saudável. É uma sociedade disfuncional, tolhida no seu desenvolvimento, donde as pessoas se querem pirar mal tomam consciência do problema. Como os jovens que emigram aos milhares como quem se quer safar de uma casa assombrada.
Ora Portugal tornou-se numa casa assombrada por estigmas do passado que nos continuam a molestar. É uma sociedade que precisa do divã para ter a sua catarse e usufruir da liberdade de autodeterminação subsequente.
Antes de explorarmos as vias para essa catarse (o que tentarei fazer nos próximos posts) deixem-me apontar os problemas psicológicos que nos afetam e que, em termos coletivos podemos designar por Factores Culturais (Hofstede).
Vejamos o retrato que faz de Portugal o Geert Hofstede:
As características mais importantes, do meu ponto de vista, são a elevada Distância ao Poder, a elevadíssima Aversão à Incerteza e o Curtoprazismo (ou baixa Orientação de Longo Prazo).
O português típico tem pânico do futuro, quase como quem sofreu uma catástrofe e está paralisado com medo de novos choques. Não desenvolvemos uma “Mente Trágica” (no sentido grego clássico), aceitando que não podemos controlar o Destino, mas sem que isso nos paralise.
O modo psicopático de lidar com esse pânico do futuro é a submissão a poderes que se dizem iluminados e que nos querem salvar da desgraça (elevada distância ao poder).
Parece o paradigma da mulher maltratada e abusada que não sai de casa porque se sente insegura e incapaz de lidar com a incerteza do futuro. Nós continuamos submissos aos poderes que nos exploram, aproveitando-se do nosso medo atávico do futuro.
Contrariamente a aceitar que estes Factores Culturais são inerentes ao nosso fundo genética, penso que são o resultado de traumas do passado. Eventos que foram tão determinantes que nos deixaram com uma Síndroma Pós-traumática.
O que poderá ter sido?
Precisamos metaforicamente do divã para uma catarse coletiva.
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