Através da medida que hoje anunciou (cf. aqui), o Governo, ainda por cima uma Governo socialista, pôs Portugal a especular sobre o nível das taxas de juro a dois anos.
Durante dois anos, a prestação do crédito à habitação, em lugar de ser actualizada pela taxa euribor, passa a ser actualizada por 70% dessa taxa. Esta medida, diz o próprio Governo, irá beneficiar um milhão de famílias portuguesas (cf. aqui), quer dizer, três a quatro milhões de portugueses.
Suponhamos uma família que paga actualmente 500 euros por mês de prestação no seu crédito à habitação, sendo 150 relativos a juros e 350 a amortização do capital. Suponhamos em seguida que a taxa euribor sobe e que a prestação iria subir para 600 euros por mês, sendo agora 250 de juros e 350 de amortização do capital.
Segundo a medida anunciada pelo Governo, é possível manter a prestação mensal do crédito à habitação constante em 500 euros ao mês, só que agora serão 250 de juros e 250 de amortização do capital, sendo que a diferença na amortização do capital (100 euros por mês, 2400 durante os dois anos de duração do programa) será remetida para o futuro, e começará a ser amortizada daqui por seis anos.
Este programa assenta criticamente na expectativa de que as taxas de juros irão baixar nos próximos dois anos.
É que, a partir do primeiro dia, começam a correr juros sobre o capital que entretanto é atirado para o futuro (no exemplo, 2400 euros ao final de dois anos), e que terão de ser pagos, juntamente com a amortização desse capital, a partir do sexto ano - tudo isto a juntar aos juros e à amortização de capital que eram inicialmente devidos a partir desse ano.
Se as taxas de juro subirem, e subirem significativamente, o programa pode ser ruinoso para quem a ele aderir.
É claro que, a partir do sexto ano, o primeiro-ministro e o ministro das Finanças já cá não estarão para prestarem contas. Ficam as famílias para as pagarem aos bancos.
Um Governo socialista transformou Portugal em Wall Street, pôs um milhão de famílias a especular sobre o futuro das taxas de juro.
Escusado será dizer que a coisa pode correr bastante mal.
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