25 setembro 2023

ILIBERALISMO

 


Iliberalismo

 

Quando Portugal enveredou pela senda do comunismo, nos idos anos de 1974, já todo o mundo sabia que o comunismo tinha sido um fiasco monumental, em termos políticos, sociais e económicos.

 

Eduardo Lourenço chegou mesmo a afirmar que, nos círculos intelectuais, isso era bem conhecido, mas apenas sussurrado, desde o início dos anos 50; um quarto de século antes do 25/4.

 

Os tugas, contudo, ignoraram o conhecimento histórico e de cravo na mão começaram a sonhar com “os amanhãs que cantam”. Rapidamente, porém, o sonho transformou-se num pesadelo que ainda nos continua a fazer perder noites de descanso.

 

Numa nota pessoal, apenas me apercebi da gravidade deste fenómeno quando regressei do meu internato de cirurgia em Nova Iorque (1989) e verifiquei que Portugal ainda estava pintado de vermelho.

 

Dois fatores contribuíram para o meu “despertar”. O contraste com os EUA e o trabalho do Pedro Arroja, que assumiu a divulgação das ideias liberais, no nosso País, como uma Missão.

 

Se atentarmos, porém, na trajetória que o liberalismo sofreu nos últimos anos (podemos usar como marco o 9/11/2001) verificamos a existência de uma deriva iliberal que põe em causa toda a ideologia.

 

O primado da Lei, que é a pedra de toque do liberalismo, foi subvertido pela politização do poder judicial, os direitos cívicos foram torpedeados pelos estados de emergência e o capitalismo de mercado foi aniquilado pelo capitalismo de compadrio.

 

Basta analisar, de cabeça fria, o que se passa nos EUA – o principal bastião da Democracia Liberal e Capitalista – para corroborar as afirmações do último parágrafo. Pensem na perseguição política que o DOJ desencadeou ao ex-presidente Trump e no enriquecimento dos potentados económicos que se encostaram ao Estado.


A conclusão é quase evidente, o liberalismo sucumbiu, derrotado por interesses e pela corrupção dos poderosos.

 

Tal como os comunistas do 25/4, podemos enterrar a cabeça na areia e pretender que nada disto está a acontecer ou alegar que o liberalismo dos EUA não era o verdadeiro liberalismo (tal como os países comunistas que colapsaram não eram verdadeiramente comunistas) ou acordar e pensar.

 

Será que o liberalismo (como o comunismo) contém em si as sementes da sua própria destruição? Deixo esta reflexão para mais tarde ou talvez como um desafio ao nosso Pedro Arroja, para quando tiver algum tempo livre.

 

Entretanto, as ideias liberais começam a ganhar tração em Portugal. Muito liberais saíram do armário e até temos um partido liberal, com dirigentes bem formados e lúcidos como o Carlos Guimarães Pinto.

 

Pergunto-me, porém, se não será tarde demais. Estaremos a idolatrar uma ideologia que já deu o que tinha a dar, com ¼ de século de atraso?

 

Já aconteceu no passado e no meio da proverbial ignorância tuga, será que estamos a repetir o mesmo erro, com um ângulo de ataque diferente.

 

Ando a pensar nisto, mas sem chegar a conclusões.

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