Comecemos por uma definição do significado geralmente atribuído a “Comando e Controle” - C² - É um sistema de administração de recursos baseado nas decisões de alguém em posição de autoridade. Manda quem pode e obedece quem deve (comando) e o mandante vai vigiando (controle) o resultado das suas ordens e ajustando aos seus objectivos.
É um sistema com origem militar, hierárquico e bastante rígido. Tem algumas provas dadas no terreno, de batalhas e de empresas do início do século XX, mas que evoluiu para formas de organização matricial, à medida que a complexidade do mundo moderno impôs respostas rápidas em situações de incerteza.
O exército permanecia como o último reduto do C², mas parece que, mesmo aí, o quero, posso e mando já deu o que tinha a dar.
Para chegar a esta conclusão, basta ler este interessante artigo do US Army War College: “A Call to Action: Lessons from Ukraine for the Future Force”.
A experiência da guerra da Ucrânia demonstrou que os militares em ação não se podem limitar a seguir cegamente os comandos da hierarquia. Necessitam de se adaptar às circunstâncias do momento, de forma inteligente e conhecedora, mesmo contra as instruções que receberam.
O general norte-americano Mark Milley chamou “Desobediência Disciplinada” a este tipo de autonomia dos militares sob o seu comando e, neste artigo, os autores: Katie Crombe e John A. Nagl, explicam as verdadeiras razões desta mudança.
A situação no terreno muda rápida e constantemente e requer adaptações táticas. Sem as quais a derrota pode estar assegurada.
Em Portugal, o comando e controle continua a ser a forma privilegiada de administrar as empresas e, na minha opinião, uma das causas das nossas derrotas económicas.
Esta tendência está radicada na cultura católica e no nosso elevado índice de Distância ao Poder (Hofsteade). O patrão julga-se o Papa e sente-se compelido a mandar em tudo e mais alguma coisa e os empregados têm medo de dar sugestões.
Não é fácil mudar esta situação!
Há uns anos, em Matosinhos, entrei numa loja de uma operadora de telecomunicações. A loja estava vazia, tinha meia dúzia de funcionárias a atender e eu dirigi-me a uma delas.
— Bom dia...
— O Sr. não tirou senha de atendimento — disse-me a diligente colaboradora.
— Pois não, eu sou o único cliente.
— Só posso atender se o Sr. tirar senha.
— Bom, mas eu não vou tirar senha porque sou o único cliente aqui presente.
— Sem senha não posso atender.
— Então vá a senhora tirar a senha por mim.
— Eu não posso sair do meu lugar.
— Muito bem, então eu vou embora.
Um bocadinho de desobediência disciplinada tinha caído a preceito e é disso que mais precisamos em Portugal.
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