Há dias, uma senhora de meia-idade confessou-me que o que mais lhe desagradava na Igreja Católica é os padres não se poderem casar. Era isso, na sua perspectiva, que originava tanta pedofilia.
Como era uma pessoa que eu considero, expliquei-lhe as razões do celibato clerical, apresentando como argumento um caso imaginário e depois generalizando as respetivas consequências.
Imagine que a Igreja autorizava o casamento dos padres, num país de cultura e tradições católicas. No dia seguinte ao matrimónio, a mulher metia-se na Igreja a ajudar nas limpezas e começava por criticar o trabalho das crentes da congregação que participavam voluntariamente nessas tarefas.
Imagino-a a passar o dedo indicador num quadro representativo da Anunciação da Virgem Maria e a apontar para o marido:
— Já viste a quantidade de pó? – tens de pôr ordem nisto.
— Deve ter sido uma distração – responderia o padre.
— Tu não conheces esta gente, é fazer que fazem e bater com a mão no peito.
— Não exageres...
— Ela vem cá só para te ver e tu parece que gostas e não tens mão nela. Tens de a correr...
Com o passar dos dias, a mulher, agora instalada como patroa, tentaria despedir a florista porque tem uma amiga da manicure que também tem uma loja de flores e que pode fazer um trabalho melhor.
Repreenderia o pobre padre pela qualidade do vinho da missa e a porcaria das hóstias e por fim...
Por fim corrigiria os sermões, que eram um bocado ultrapassados e repetitivos. Aliás, o melhor seria ser ela a escrever os sermões.
— Porque é que a Igreja não contrata músicos?
— Ó filha, mal temos orçamento para a manutenção.
— Sim, com os teus sermões e sem música, não admira.
Ou seja, num país de cultura católica, a mulher, passada a patroa, rapidamente se tornaria na padreca e a Igreja seria administrada por ela.
— Tem razão, nunca tinha pensado nisso. Mas e a pedofilia?
Os casos de verdadeira pedofilia, na Igreja ou fora dela, são raros. Refiro-me a abusos sexuais de jovens, raparigas ou rapazes pré-púberes. Os casos mais frequentes são de pederastia, com rapazes, ou abuso de raparigas com menos de 18 anos, mas desenvolvidas sexualmente. Ora estes casos não me parece que dependam do celibato, nem que se enquadrem na verdadeira pedofilia psiquiátrica.
— Mas na televisão...
A TV, atualmente, não é muito católica!
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