Quando, no livro fundador da moderna Ciência Económica - "A Riqueza das Nações", publicado em 1776 -, o filósofo escocês Adam Smith apontou Portugal como o exemplo acabado de um país atrasado (backward) miserável (beggarly) e mal-governado (misgoverned), ele estava a apontar o dedo directamente ao Marquês de Pombal, que por essa altura governava o país há vinte anos.
O Marquês de Pombal faria hoje anos, nasceu a 13 de Maio de 1699, e governou Portugal, com mão de ferro, por delegação e incúria do rei D. José I, entre 1756 e 1777 (cf. aqui). A entrada que lhe é dedicada na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, atribui-lhe um título nada invejável - o de ter sido provavelmente o governante mais cruel da nossa história. (Nâo deixa de ser curioso que o governante mais cruel da nossa história seja hoje honrado no centro da principais cidades do país, a começar por Lisboa. Uma honrosa excepção é Braga).
O que é que havia de diferente na economia atrasada, miserável e mal-governada pelo Marquês e na economia próspera do Reino Unido, progressiva, rica e bem governada, e sobre a qual Adam Smith vinha agora teorizar?
É que em Portugal a economia era dirigida autocraticamente pelas decisões de um burocrata tornado "rei" absoluto, ao passo que no Reino Unido a economia era dirigida democraticamente pelo povo através das decisões de milhões de cidadãos anónimos - numa palavra, pelo mercado.
O mercado reproduzia na economia a democracia política britânica, ao passo que o Marquês representava tudo o que era o seu oposto - o centralismo político e económico. O Marquês de Pombal governou Portugal como se fosse uma quinta da qual ele era o capataz e o resultado, pelo menos aos olhos de Adam Smith, foi um país atrasado, miserável e mal-governado.
O Marquês viveu em Inglaterra durante vários anos e ficou impressionado com o sucesso económico britânico. Quando se tornou primeiro-ministro de Portugal procurou adoptar medidas que imitassem esse sucesso, mas falhou. Nunca se apercebeu que a razão principal do seu falhanço era ele próprio - um governante dotado de poder absoluto a tomar decisões por milhões de pessoas, em lugar de conceder que fossem as pessoas a tomar as decisões por elas próprias, que é nisso que consiste o mercado.
Dois séculos e meio depois, a cultura permanece a mesma, os políticos portugueses continuam a olhar para Portugal como se fosse uma quinta, cada um deles ambicionando ser o capataz (cf. aqui). O resultado não pode ser diferente - um país atrasado (pelos padrões da Europa Ocidental), miserável (a viver a custas da União Europeia) e mal-governado (a evidência está à vista).
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