13 maio 2023

à procura do próximo

 


Seria uma injustiça atribuir ao Marquês de Pombal (cf. aqui), ou aos políticos modernos, a sua ambição de gerir Portugal como se fosse uma quinta, da qual cada um deles ambiciona ser o capataz.

São necessários dois para dançar o tango, e ao lado do político ambicioso para se tornar um capataz, existe um povo que, perante cada problema ou adversidade da vida, constantemente clama por uma figura de autoridade, que lhe resolva os problemas, pela força se necessário fôr, que é isso precisamente que faz o capataz.

A estatística que mais me embaraça acerca de Portugal não tem nada que ver com economia. É a estatística que põe Portugal no topo dos países da União Europeia onde os filhos saem mais tarde de casa dos pais (cf. aqui). O português médio sai de casa dos pais aos 34 anos de idade. Esta é a idade média, significando que muitos saem de casa dos pais com 40 anos e mais. Eu não consigo imaginar uma mamã a fazer a comida e a cama, e a lavar a roupa de um menino de 40 anos, e muito menos de uma menina, e ainda a pôr-lhe o despertador de manhã para ele não chegar atrasado ao emprego. 

Quem olhar para o gráfico acima rapidamente conclui que os países onde os filhos saem mais tarde de casa dos pais são países de influência predominantemente católica, como Portugal ou a Croácia, e os países onde os filhos saem mais cedo de casa dos pais são países de influência predominantemente protestante, como a Suécia ou a Dinamarca. 

(Em todos os casos as mulheres saem mais cedo do que os homens porque é sabido que as mulheres são mais independentes do que os homens. A figura do "menino da mamã" é muito mais corrente do que a figura da "menina da mamã (ou do papá)")

Houve já quem escrevesse que, nos países protestantes, as crianças parecem, às vezes, adultos. Faltou-lhe acrescentar que nos países católicos os adultos parecem, às vezes, crianças.

O catolicismo venera a figura de Maria - a Mãe -, ao passo que o protestantismo não venera a figura de Maria (nem dos santos), mas apenas a de Cristo (o princípio protestante "Solo Christus"). A própria Igreja Católica - a Santa Madre Igreja - é a figura teológica de Maria ao passo que nenhuma das igrejas protestantes reclama tal estatuto - são todas igrejas de Cristo. 

A figura da Mãe, e mais geralmente a figura da Mulher, tanto pode ser uma figura extraordinariamente inspiradora como uma figura extraordinariamente protectora, e até as duas coisas ao mesmo tempo.

Houve um tempo em que a Igreja Católica - a figura teológica da Mãe e da Mulher - foi uma figura extraordinariamente inspiradora, como sucedeu em Portugal na época dos Descobrimentos, em que intrépidos (cf. aqui) portugueses desbravaram oceanos desconhecidos, correndo os mais impressionantes riscos, e pagando-os frequentemente com a vida.

Hoje parece que a Igreja Católica - e a cultura feminina que ela criou em Portugal -,  é uma figura sobretudo protectora em que meninos mimados passam o tempo a chamar pela mãe (e pelo pai) para lhes resolver os problemas e, quando estes não o conseguem fazer, chamam por uma figura de autoridade política que o faça, que é a figura do capataz.

Portugal tem tido vários capatazes ao longo da sua história. E eu estou cada vez mais convencido que anda à procura do próximo. 

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