11 abril 2023

A Economia de Francisco (9)

(Continuação daqui)



9. Morrer de amor

A Economia de Francisco é, em primeiro lugar, um manifesto anti-liberal, que o Papa Francisco exprimiu com toda a clareza na Encíclica Fratelli Tutti ("Todos Irmãos", cf. aqui)).

Escreve o Papa (ênfases meus): 


168. O mercado, por si só, não resolve tudo, embora às vezes nos queiram fazer crer neste dogma de fé neoliberal. Trata-se dum pensamento pobre, repetitivo, que propõe sempre as mesmas receitas perante qualquer desafio que surja. O neoliberalismo reproduz-se sempre igual a si mesmo, recorrendo à mágica teoria do «derrame» ou do «gotejamento» – sem a nomear – como única via para resolver os problemas sociais. Não se dá conta de que a suposta redistribuição não resolve a desigualdade, sendo, esta, fonte de novas formas de violência que ameaçam o tecido social. Por um lado, é indispensável uma política económica ativa, visando «promover uma economia que favoreça a diversificação produtiva e a criatividade empresarial»,[140] para ser possível aumentar os postos de trabalho em vez de os reduzir. A especulação financeira, tendo a ganância de lucro fácil como objetivo fundamental, continua a fazer estragos. Por outro lado, «sem formas internas de solidariedade e de confiança mútua, o mercado não pode cumprir plenamente a própria função económica. E, hoje, foi precisamente esta confiança que veio a faltar».[141] O fim da história não foi como previsto, tendo as receitas dogmáticas da teoria económica imperante demonstrado que elas mesmas não são infalíveis. A fragilidade dos sistemas mundiais perante a pandemia evidenciou que nem tudo se resolve com a liberdade de mercado e que, além de reabilitar uma política saudável que não esteja sujeita aos ditames das finanças, «devemos voltar a pôr a dignidade humana no centro e sobre este pilar devem ser construídas as estruturas sociais alternativas de que precisamos».


Em Portugal, o Bloco de Esquerda ou o Partido Comunista não diriam de modo diferente - o  neoliberalismo, a desigualdade, a especulação financeira, a ganância do lucro, a liberdade do mercado...

Em lugar de uma economia cujo protagonista principal é o indivíduo, a Economia de Francisco propõe a comunidade. Em lugar de uma economia centrada no interesse próprio, a Economia de Francisco propõe uma economia centrada no amor. Em lugar de uma economia centrada na troca e no lucro, a Economia de Francisco propõe uma economia centrada na dádiva e na partilha.

Indivíduo, interesse próprio e troca lucrativa contra comunidade, amor e dádiva fraterna - é esta a oposição entre os princípios de uma economia liberal ou capitalista e os princípios da Economia de Francisco que é uma economia comunista.

Vale a pena voltar à máxima de Adam Smith, que resume numa frase os princípios da economia liberal: "Não é da benevolência do homem do talho, do vinicultor ou do padeiro que nós podemos esperar o nosso jantar, mas da preocupação destes homens com o seu próprio interesse". As nações que seguiram esta máxima enriqueceram rapidamente, sendo os EUA o primeiro caso e o caso mais notório.

Experimente agora inverter estes princípios, como faz a Economia de Francisco, e esperar que o jantar lhe chegue à mesa dado pelo amor à comunidade do homem do talho, do vinicultor  ou do padeiro, e veja o que lhe acontece.

Vai morrer de fome, você e a sua família.

Experimente igualmente que serviços médicos ou medicamentos lhe cheguem gratuitamente a casa em resultado do amor fraterno do enfermeiro, do médico ou do trabalhador da indústria farmacêutica, e veja no que dá.

Vai morrer doente, você e a sua família.

Na Economia de Francisco morre-se prematuramente pela fome e pela doença em resultado do amor fraternal que une a humanidade (fratelli tutti), tal como pregado pelo Papa Francisco. Ou da falta dele.

Como é possível a um Papa escrever tanta estupidez, ainda por cima uma estupidez que mata? A uns miúdos do Bloco de Esquerda ainda se toleram estas baboseiras. Agora, o Papa já tinha idade para ter juízo e saber mais.

(Continua acolá)   

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