11 abril 2023

A Economia de Francisco (10)

 (Continuação daqui)



10. Ladrões

Na Economia de Francisco, os ricos são vistos como ladrões. Se os ricos têm a mais e os pobres têm a menos, a razão é que os ricos roubaram aos pobres, que são olhados como vítimas.

De novo, o Papa Francisco, citando vários "sábios" (cf. aqui, ênfases meus): 

"119. Nos primeiros séculos da fé cristã, vários sábios desenvolveram um sentido universal na sua reflexão sobre o destino comum dos bens criados.[91] Isto levou a pensar que, se alguém não tem o necessário para viver com dignidade, é porque outrem se está a apropriar do que lhe é devido. São João Crisóstomo resume isso, dizendo que, «não fazer os pobres participar dos próprios bens, é roubar e tirar-lhes a vida; não são nossos, mas deles, os bens que aferrolhamos».[92] E São Gregório Magno di-lo assim: «Quando damos aos indigentes o que lhes é necessário, não oferecemos o que é nosso; limitamo-nos a restituir o que lhes pertence»"

É a mesma concepção da economia vulgarizada por Karl Marx, e perfilhada entre nós pelo Bloco de Esquerda ou pelo Partido Comunista, segundo a qual os pobres (proletários) são explorados pelos ricos (capitalistas) e a pobreza dos pobres é o resultado da riqueza dos ricos.

Ninguém poderá ficar surpreendido que na Economia da Francisco de certos países católicos fervilhe um espírito revolucionário (cf. aqui) que um dia levará ao levantamento dos pobres contra os ricos, do mesmo modo que, no passado e em outras partes do globo, os proletários se levantaram contra os capitalistas, com os resultados que são conhecidos.

A Economia de Francisco não produz ricos - pelo contrário,  produz pobreza generalizada -, mas, mesmo que produzisse, ninguém nela queria ser rico porque seria perseguido como um ladrão, e muito provavelmente posto na prisão.

Na Economia de Francisco ser rico é uma vergonha.  Só os pobrezinhos são santos. E se os pobres morrem mais cedo que os ricos (cf. aqui), isso é mais um sinal da sua santidade. É Deus a querer os pobres mais cedo junto de Si. Pelo contrário, os ricos podem ficar mais tempo por cá porque Deus não preza a sua companhia.

O que é que há de errado na argumentação dos "sábios" S. João Crisóstomo e S. Gregório Magno, e que o Papa Francisco tão inocente e ignorantemente subscreve?

Dois aspectos cruciais, o primeiro relacionado com a doutrina católica do "destino universal dos bens". Se é certo que os bens da natureza (v.g., sol, ar, mar) são originalmente destinados a todos, não é menos certo que os bens produzidos pelo homem não pertencem a todos. A casa construída por A pertence a A e não a B, e B não tem direito nenhum sobre essa casa (Nota: Mais sobre este tema no post seguinte onde são tratados os direitos de propriedade na Economia de Francisco)

Segundo, na época em que viveram aqueles "sábios", a ideia de crescimento económico não existia. O produto económico (PIB) era constante de ano para ano e as profissões passavam-se de pais a filhos. Nesta economia estagnada e repetitiva, em que o tamanho do "bolo" era fixo de um ano para o outro, se alguém, em certo ano, passava a ter uma fatia maior é porque outro alguém necessariamente passava a ter uma fatia menor. Por cada pessoa que enriquecia havia outra ou outras que empobreciam (ceteris paribus). 

Foi o liberalismo económico, com o seu extraordinário dinamismo, que introduziu a ideia de crescimento económico, e a tornou realidade. Numa economia em crescimento, o "bolo" cresce ano após ano. Em consequência, todos podem, em princípio, ter acesso a uma fatia maior do bolo de um ano para o outro.  Numa economia liberal ou capitalista, todos podem enriquecer ao mesmo tempo.

O pensamento económico do Papa Francisco parou na Idade Média. Mas a sua ignorância económica, essa, sobrevive até hoje.

(Continua acolá)

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