23 novembro 2022

Um juiz do Supremo (117)

(Continuação daqui)



117. Destino: Porto


-Porquê o Porto?

-Porque o Tribunal da Relação do Porto era, na altura (2000), o tribunal de recurso para os processos que eram julgados no Tribunal de Bragança.

Olhando em retrospectiva, com a imagem pública de juiz corrupto que ele próprio admite ter (cf. aqui), esta é a resposta mais provável para o juiz Marcolino, logo que foi promovido a juiz desembargador em 2000, ter trocado o Tribunal da Relação de Lisboa pelo Tribunal da Relação do Porto.

Na Relação de Lisboa ele não podia controlar, influenciar e manipular os processos que vinham do Tribunal Judicial de Bragança.  O lugar certo para traficar sentenças produzidas em Bragança era o Tribunal da Relação do Porto e, em particular, uma das suas secções criminais.

O ano de 2000 marca o início da década em que o juiz Marcolino vai pôr processos-crime em catadupa contra os seus conterrâneos de Bragança, todos com pedidos de indemnizações cíveis - se é que nesse ano já não teria alguns a correr.  

Dez anos depois, quando volta a Bragança como inspector judicial, com os propósitos que, entretanto,  se tornaram conhecidos, existiam nada mais, nada menos do que oito processos de que o juiz era autor no tribunal da cidade (cf. aqui).

Mas o ano 2000 é bem capaz de ser também o ano em que o juiz Marcolino sentiu pela primeira vez que não faltaria muito tempo até que o seu sócio e amigo Duarte Lagarelhos fosse preso e julgado por tráfico de droga. Daí a venda da quota na imobiliária de que ambos eram sócios, a título gratuito.

A julgar pelo número do processo, a investigação do FBI, que acabaria por se estender a Portugal e levar Duarte Lagarelhos à prisão (cf. aqui), estava em curso desde 1999 (cf. aqui) e, desde essa altura, o FBI deve ter solicitado a cooperação das autoridades portuguesas.

Não deixa de ser uma ironia que, para apanhar traficantes de droga de Bragança, onde toda a gente se conhece e onde toda a gente sabe aquilo que o vizinho faz e com quem se dá, a investigação criminal tivesse que começar nos EUA. As autoridades judiciais portuguesas do nordeste transmontano deviam andar a dormir, ou então fingiam que andavam a dormir.

O povo, esse, é que nunca deixou de acreditar na inocência do cabo Sérgio Casca e atribuir o móbil do crime que, seis anos antes, vitimara dois guardas da GNR, ao tráfico de droga.

Não passou muito tempo até o próprio juiz Marcolino estar a ser citado nas investigações do FBI e, mais tarde também, nas investigações das autoridades policiais portuguesas.

Se Duarte Lagarelhos fosse um dia apanhado, julgado e preso, o lugar certo para o juiz Marcolino era o Tribunal da Relação do Porto porque aí é que iria parar o recurso da condenação pelo Tribunal de Bragança.

Era aí que ele poderia dar um jeito. No fim de contas, os amigos são para as ocasiões, como o juiz Marcolino viria a demonstrar mais tarde também com outro ilustre traficante - embora não de droga mas de influências -, oriundo de Lagarelhos, Armando Vara (cf. aqui e aqui)


(Continua acolá

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