29 novembro 2022

Um juiz do Supremo (128)

(Continuação daqui)



128. Um milagre

Há mais de dez anos, o antigo bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho e Pinto, entre as muitas críticas que fazia à justiça em Portugal, lamentava-se daquilo em que se tinham transformado os tribunais.

Em síntese, a crítica poderia exprimir-se assim. Os tribunais, que deviam ser locais solenes para, usando a razão, chegar à verdade a fim de fazer justiça, tinham-se transformado numa verdadeira casa de alterne onde se prostituía a razão, se prostituía a verdade e se prostituía a justiça.

Foi o que aconteceu no julgamento do juiz Marcolino que teve lugar em março no Supremo Tribunal de Justiça. Na casa-mãe da justiça, ali onde se tomam decisões importantes sobre a vida das pessoas, onde um erro, uma falha, uma desatenção, qualquer falha humana pode mandar injustamente uma pessoa muitos anos para a prisão, sem possibilidade de recurso, o ambiente era o de uma casa de alterne.

O protagonista principal era um juiz desembargador que, em breve, passaria ele próprio de réu a juiz do Supremo.

Falou-se de putas, de gajos, de traficantes, de cabrões, de cornos, de mulheres que dormiam com este mundo e o outro, de filhos bastardos, de maridos traídos, e também de insanidade mental (cf. aqui).

A Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa - com os seus apertadíssimos critérios de admissão e os seus elevadíssimos padrões académicos - em associação com o Conselho Superior da Magistratura, o Partido Socialista, e muito provavelmente também, com uma pitada de organizações secretas, tinha conseguido mais um milagre. 

Tinha conseguido transformar um labrego em juiz do Supremo.


(Continua acolá

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