14 agosto 2022

"um protector serial de pedófilos"


Vincent Nichols é o cardeal de Westminter, o chefe da Igreja Católica em Inglaterra e no País de Gales -  o equivalente para Portugal do cardeal patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente.

Em Novembro de 2020, uma Comissão Independente sobre os abusos sexuais na Igreja Católica (IICSA) em Inglaterra e no País de Gales publicou o seu relatório, e o cardeal Nichols não foi poupado, tendo sido descrito por uma das vítimas como "um protector serial de pedófilos" (cf. aqui).

O relatório põe muito ênfase na cultura de encobrimento vigente na Igreja onde os abusos sexuais de menores são sistematicamente varridos para debaixo do tapete ("swept under the carpet"). A Comissão diz também que a relutância do Vaticano em colaborar "está para além de toda a compreensão". Sobre o cardeal Nichols, a Comissão escreve:

"Não houve reconhecimento da sua parte de qualquer responsabilidade pessoal para induzir ou influenciar qualquer mudança. Nem demonstrou qualquer compaixão pelas vítimas de casos recentes que foram examinados pela Comissão".

As críticas ao cardeal, e os pedidos para a sua resignação - que aparentemente o Papa não aceitou, tal como fez recentemente com D. Manuel Clemente - são perfeitamente compreensíveis, especialmente num país que não prima pelo seu catolicismo.

Os abusos sexuais na Igreja não são actos isolados em que ocorre um hoje aqui, outro daqui por um ano acolá. Como os relatórios feitos em diferentes países  têm posto a claro - e o relatório português, que é devido no final do ano, certamente irá fazer também - são sistémicos, generalizados, fazem parte de uma cultura que vigora dentro da Igreja Católica.

Ora, o cardeal Nichols não entrou para a Igreja agora, aos setenta e tal anos de idade. Ele entrou ainda jovem  como seminarista, ele percorreu todos os escalões da hierarquia ao longo de muitos anos até chegar a chefe da Igreja em Inglaterra, a Igreja é o meio onde cresceu e viveu, a Igreja é a sua casa. 

Ele sabe muito bem o que a casa gasta. Ele não há-de conhecer um caso apenas de abuso sexual de menores dentro da Igreja. Ele há-de conhecer dezenas, senão mesmo centenas. Por isso o epíteto que lhe é atribuído de "protector serial de pedófilos" é duro de digerir mas, com elevadíssima probabilidade, exprime a dura realidade.

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