06 agosto 2022

nunca conheceu um padre

 


Não me parece nada bem a Comissão Independente (CI) que investiga os abusos sexuais na Igreja andar  a prestar vassalagem ao poder político. A semana passada reuniu com o presidente da Assembleia da República, ontem com o Presidente da República.

Existe um elemento abominável, em termos democráticos, na cultura portuguesa, que consiste em que, cada vez que uma pessoa ou grupo de pessoas - como é o caso da CI -, desempenha um trabalho de natureza pública, essa pessoa ou grupo de pessoas não se sente confortável no seu trabalho sem ter  a aprovação do poder político.

É como se com isso se sintam legitimados, e sem isso se sintam clandestinos. Revela falta de confiança em si próprios, mais ainda neste caso quando a CI foi contratada pela Igreja Católica, e não por qualquer instituição do Estado. O resultado final é a perda de independência de que se reclamam e colocarem-se a jeito para serem instrumentalizados pelo poder político.

É o que já está a acontecer.

A Igreja não precisa de mais adversidade, já basta aquela que advém dos factos que estão sob investigação. Mas ao colocar-se sob a "benção" do poder político, o que a CI está a fazer é trazer mais achas para a fogueira. Nenhum político se coloca ao lado, muito menos dá a mão, a uma instituição com os índices de popularidade tão em baixo como estão presentemente os da Igreja Católica em Portugal. Pelo contrário, aquilo que se pode esperar é que os políticos afundem ainda mais a instituição.

É o que está a fazer o Presidente da República, depois da reunião de ontem com a CI. Não apenas veio a público encorajar  os portugueses a denunciarem os abusos sexuais na Igreja à CI - um encorajamento que, aceitando a CI denúncias anónimas, se presta às maiores injustiças - como afirmou que o mandato da CI se deveria prolongar para além do tempo que lhe está destinado, que é o final do ano.

É sabido que o Presidente da República foi eleito com o voto católico de muitos portugueses. Mas os portugueses também já devem conhecer o PR que têm. Se os índices de popularidade da Igreja Católica continuarem a cair como até aqui, ninguém deve ficar surpreendido se um dia destes o Presidente da República vier a público dizer que nunca conheceu um padre.

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