Com três anos e meio de avanço sobre ao Ministério Público eu retratei o que se passava na Associação Comercial do Porto (cf. aqui) e que esta semana levou a buscas por parte da Polícia Judiciária, num inquérito que é dirigido pelo Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP, que é um departamento do Ministério Público).
Na altura, eu concentrei-me na Cuatrecasas. A Cuatrecasas prestava serviços de assessoria jurídica à ACP. E dois dos directores da Cuatrecasas - Paulo Rangel e Filipe Avides Moreira - eram ao mesmo tempo directores da ACP. Quer dizer, eles utilizavam o dinheiro da ACP para se fazerem pagar na Cuatrecasas.
Nunca tinha visto tal coisa. Os directores da instituição-fornecedora (Cuatrecasas) de um serviço a outra são ao mesmo tempo directores da instituição-cliente (ACP).
Embora a minha concentração na altura tivesse sido na Cuatrecasas, o facto de o esquema ter sido revelado com toda a naturalidade pelo presidente da ACP, Nuno Botelho, num depoimento em tribunal, só podia reflectir a cultura que vigorava na ACP. Eles - o Paulo Rangel e o Avides Moreira - não deviam ser os únicos directores da ACP a fazerem negócios consigo próprios, em benefício de outras instituições onde tinham interesses.
Por isso, eu não fiquei nada surpreendido com as notícias desta semana que põem o foco no presidente da ACP, Nuno Botelho. Naquele regabofe, o presidente só podia dar o exemplo. A PJ, sob a direcção do MP, anda agora a investigar como é que os dinheiros da ACP (e de outras instituições) eram utilizados para comprar serviços às empresas do seu presidente.
Segundo as notícias, as buscas incluem também sociedades de advogados, que não são identificadas (cf. aqui), embora outras notícias refiram apenas "um escritório de advogados" (cf. aqui). Eu presumo saber qual seja.
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