Corria o ano de 2015 e o nosso futuro primeiro-ministro era ao mesmo tempo eurodeputado e director da sociedade de advogados Cuatrecasas no Porto, antecipando um exemplo que irá dar aos portugueses no dia em que for nomeado para o cargo - o exemplo da promiscuidade entre política e negócios, da utilização da política para enriquecimento pessoal, do tráfico de influências e do conflito de interesses entre o exercício de funções públicas e privadas.
Foi um ano fatídico, esse ano de 2015, para a centenária sociedade de advogados Cuatrecasas, uma multinacional de advocacia com sede em Barcelona, e a segunda maior da Europa continental, com escritórios também em Bruxelas onde, por coincidência, o nosso futuro primeiro-ministro também exercia as funções de representante do povo português no Parlamento Europeu. Entre o Porto e Bruxelas, o nosso futuro primeiro-ministro andava num vai-vem, e não só na sua condição de eurodeputado.
Nesse ano, na vizinha Espanha, o patrão do nosso futuro primeiro-ministro - Señor Don Emílio Cuatrecasas, presidente da Cuatrecasas e neto do fundador - foi condenado a dois anos de prisão por fuga ao fisco, expondo uma das áreas de especialização da sua própria sociedade de advogados (cf. aqui).
A pena de prisão acabaria por ser convertida em multa de quatro milhões de euros depois de a Cuatrecasas ter movido influências junto do Partido Popular que estava no poder - o equivalente espanhol do Partido a que pertence o nosso primeiro-ministro. É que a Cuatrecasas não brinca em serviço quando se trata de manipular a justiça, seja em Espanha seja em Portugal ou em qualquer dos outros dez países onde está presente.
Como quer que seja, a condenação de Don Emílio foi uma benção. Para quem vai ser primeiro-ministro de Portugal não existe experiência profissional mais relevante do que esta - ter sido director e trabalhado para uma sociedade de advogados cujo patrão foi condenado a prisão por fuga ao fisco.
Quando ele for primeiro-ministro, os portugueses podem alegremente fugir ao fisco e depois perguntar-lhe: "Não era isto que se fazia lá na sociedade de advogados de que você foi director?"
Nota: Uma verdadeira heroína é a ex-mulher do ex-patrão do nosso futuro primeiro-ministro, Mercedes Cuatrecasas, agora Mercedes Barceló (cf. aqui). É pena que o nosso futuro primeiro-ministro não tenha mulher para lhe seguir o exemplo.
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