Durante o Conselho Nacional do Chega que se realizou este fim-de-semana em Sagres, eu tive uma intervenção mais demorada no sábado de manhã para apresentar a parte económica do programa, e depois subi mais duas ou três vezes ao palco para prestar esclarecimentos sobre outras tantas cláusulas.
Uma destas vezes foi a propósito da cláusula 64 (cf. aqui). Um dos conselheiros do Partido propôs a supressão desta cláusula do Programa, e a Direcção pediu-me então que fosse ao palco explicar o seu sentido à assembleia.
Comecei por dizer que o factor principal que me tinha levado a aproximar-me do CHEGA tinha sido o facto de o presidente do partido, André Ventura, ser o único líder partidário que ousa invocar Deus em público.
Esta declaração mereceu uma enorme salva de palmas, que eu não estava à espera, mas que, em retrospectiva, não é surpreendente porque o CHEGA é um partido popular e o povo português é religioso. (De manhã, recebera outra salva de palmas por ter dito que o aspecto que eu mais gostava no CHEGA era o facto de ele ser um partido popular).
Aproveitei também para dizer que, sendo o CHEGA um Partido disruptivo, esta me parecia ser também a cláusula mais disruptiva do programa, senão mesmo subversiva.
Um homem que ousa falar em Deus vincula-se imediatamente a um conjunto de valores e de comportamentos pelos quais passará a ser julgado, como a verdade e a justiça, a honestidade, o cumprimento da palavra dada, etc., mas sobretudo àquela atitude de espírito que Deus em primeiro lugar representa - o amor.
"Deus caritas est" ("Deus é amor") é o título da primeira encíclica do Papa Bento XVI (cf. aqui) que é, aos meus olhos, o maior teólogo católico desde S. Tomás de Aquino.
Sem amor, nenhum de nós teria chegado à idade suficiente para estar ali reunido naquela assembleia em Sagres - o amor dos nossos pais, da nossa família alargada, dos nossos amigos, dos nossos professores, daqueles que cuidam de nós ao longo de toda a nossa vida.
Nós poderíamos chegar a esta idade e a Sagres naquele dia, sem a força do Estado ou sem o interesse-próprio que governa as relações entre as pessoas nas empresas. Mas sem o amor da nossa mãe (ou de alguém que a substitua), sem esse, é que teríamos morrido de certeza logo após a nascença.
A referência ao amor na cláusula 64 é uma referência implícita a Deus ("Deus é amor") e chama a atenção para o cimento mais forte que une as pessoas, que não é nem o interesse-próprio vigente no mercado, nem a força vigente no Estado, mas o amor que brota de Deus e que se exprime em primeiro lugar na família.
Uma sociedade, que se pretenda livre, vive em primeiro lugar pelo amor e em segundo lugar pelo interesse-próprio, que são as chamadas formas espontâneas ou livres de as pessoas se relacionarem umas com as outras, e só em último lugar usa a força bruta do Estado para impor a umas aquilo que as outras querem.
O facto de o CHEGA colocar em primeiro lugar o amor e a família como formas prioritárias de relacionamento humano e os socialistas das várias correntes colocarem em primeiro lugar a força e o Estado diz muito acerca do conceito que uns e outros têm da liberdade.
Mas não apenas isso. Um partido que coloca Deus e o amor no seu programa está vinculado a tratar bem as pessoas, a respeitá-las e a ser honesto para com elas. Pelo contrário, os partidos que omitem Deus e o amor dos seus programas deixam apenas a indiferença e o ódio para governar as relações entre as pessoas.
Por princípio, não se rouba nem se faz mal a quem se ama. O mesmo já não se poderá dizer quando o outro nos é indiferente ou inimigo. A referência ao amor no programa do Chega era a maior garantia de que, quando o Partido for governo, tratará os portugueses segundo os mais elevados padrões do comportamento humano.
A cláusula 64 acabou por ser aprovada por unanimidade.
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