16 novembro 2019

THE BLUE BAG (V)

(Continuação daqui)


Capítulo 30. Ao cabo de cinco meses, os membros da missão, cujo número ascendia a 147, continuavam a discutir o per diem. O presidente organizava conferências de imprensa diárias para dar conta dos progressos tendentes à captura de Peter Throw, mas a partir de certa altura a notícia mais nova tinha vários meses de idade. Das notícias tinha passado à especulação, ou que Peter Throw nunca sairia vivo da selva ou que, saindo, iria demorar dezoito meses, segundo estimativas do INE. Entretanto, por unanimidade foi aprovado um per diem de mil euros para todos os membros da missão (cf. aqui).

Capítulo 31. A missão de Buenos Aires estava a dar cabo dos esforços de contenção do défice pelo Governo em Lisboa. Já ia no dia 173 … vezes 147 pessoas… vezes mil euros ao dia… era só fazer as contas... O Governo deu ordem de regresso imediato a Portugal. Nesse mesmo dia foi captada uma nova chamada para Peter Throw feita de uma cabine telefónica de Buenos Aires. A mensagem permanecia misteriosa, mas a voz feminina era a mesma. Podia agora discernir-se que se tratava de uma prima de Peter Throw, embora os serviços secretos argentinos nunca tivessem  conseguido deslindar se era uma prima pelo lado dos De Almeida ou pelo lado dos Throws (cf. aqui).

Capítulo 32. Um dia depois de a missão ter regressado a Portugal, deixando em Buenos Aires apenas o presidente e o magistrado Meadow, a televisão argentina divulgou um vídeo onde se via Peter Throw a divertir-se com uma amiga numa discoteca do norte do país, enquanto Castro esperava cá fora. Eram as últimas imagens conhecidas de Peter Throw antes de entrar na selva (cf. aqui).

Capítulo 33. Foi o embaixador Borges o primeiro a notar alguns sinais perturbadores no presidente, talvez devido ao desgaste de tantos meses de conferências de imprensa sem progressos visíveis na caça a Peter Throw. Tudo se ampliou, e complicou bastante, quando o presidente deu uma entrevista ao diário La Nación onde confessava em grandes parangonas: "Tenho muitas saudades de Peter Throw" (cf. aqui).

Capítulo 34. Foi assim que a juiz Cathy Littleriver, de regresso a Matosinhos, planeou secretamente  com o magistrado Tony Meadow, em Buenos Aires, a operação que iria tornar mundialmente famoso o presidente português, ao mesmo tempo dando aura mundial à tradição de investigação criminal do Ministério Público -  a de localizar e prender o grande criminoso Peter Throw no meio da selva latino-americana. Da última vez que o MP tinha organizado uma operação de caça ao homem como esta tinha sido num bairro da Amadora para prender um sem-abrigo (cf. aqui).

Capítulo 35. Este é o momento em que, após o jantar na embaixada, o magistrado Tony Meadow informa o presidente que Peter Throw tinha sido localizado na selva do Paraguai. O presidente estava realmente orgulhoso, os americanos tinham demorado dez anos para localizar bin Laden no Paquistão, os portugueses apenas demoraram dez meses para localizar Peter Throw no Paraguai. O magistrado Tony Meadow aproveitou para lembrar o presidente que o chefe do seu sindicato, Toni Ventinhas, andava muito deprimido porque os magistrados do Ministério Público já não eram aumentados há sete meses. (cf. aqui).

Capítulo 36. No dia seguinte, às sete da manhã, o presidente estava no aeroporto de Buenos Aires a aguardar a chegada do F-16 da Força Aérea Portuguesa, procedente do Aeroporto Francisco Sá Carneiro, que trazia a bordo o jornalista Jules Magellan do Porto Canal, e Branca, a burra mirandesa. Mal se abriram as portas, os passageiros fizeram o transbordo para um helicóptero emprestado pelo Governo argentino, estacionado ali perto, onde também embarcou o presidente português. Dez minutos depois o helicóptero estava no ar e com ele estava desencadeada a mais complexa operação de caça ao homem alguma vez realizada pelo Ministério Público português em solo estrangeiro. A operação era comandada a partir de uma sala do Tribunal de Matosinhos pela juiz Cathy Littleriver, sob o nome de código Liz, com a assistência do magistrado Tony Meadow, na embaixada portuguesa de Buenos Aires, que adoptou o nome de código Ass (cf. aqui).


(Continua)

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