25 outubro 2019

Saco Azul (4)

(Continuação daqui)

4. A pedir contas



A notícia da Sábado de que o DIAP anda a investigar o Hospital de São João não foi uma novidade total para mim (cf. aqui). Mesmo se eu não acredito nada nas investigações do DIAP.

No início de Setembro, eu suspeitei que alguma coisa deste género se passava quando recebi uma carta do HSJ, assinada pelo seu presidente, mas obviamente escrita pela Cuatrecasas que, em termos muito agressivos, me pedia contas pelos 548 mil e tal euros que, em Fevereiro de 2015, o HSJ entregara à Associação Joãozinho para os trabalhos da ala pediátrica do HSJ.

As cartas escritas pela Cuatrecasas fazem sempre sentir ao destinatário que ele é um criminoso enquanto os advogados da Cuatrecasas, bem como os seus clientes - os administradores do HSJ -, são uns santinhos.

Na altura, comentei com os meus mais próximos:

-Eles estão a ser apertados… alguém lhes anda a pedir contas...

Quando a Associação Joãozinho recebe um donativo, passa um recibo, que é uma coisa que o HSJ aparentemente não fazia e que agora o está a meter em trabalhos. E assim aconteceu com os 548 mil e tal euros recebidos do HSJ em Fevereiro de 2015.

A obra da ala pediátrica do HSJ foi começada a 2 de Novembro de 2015 (e interrompida a 3 de Março de 2016). O contrato com o consórcio construtor estipulava um pagamento inicial de um milhão de euros no prazo de três meses a contar da data do início da obra.

No dia do início, a Associação entregou seiscentos mil euros. E como, nessa altura, eu já sabia com quem estava a lidar, fi-lo com dois cheques, um de 548 mil e tal, correspondente à verba que recebera do HSJ, e outro pela diferença para os 600 mil. E pedi à construtora também dois recibos. Enviei imediatamente ao HSJ cópia do cheque e do recibo correspondentes aos 548 mil e tal euros.

A Associação Joãozinho teve a obra parada três anos por incumprimento do HSJ do protocolo que assinou com ela e com o consórcio construtor. Acabou por retirar de lá o estaleiro em Abril último quando foi ameaçada pela administração do hospital e pela ministra de saúde de que, se não o fizesse, eles o fariam à força (é este o significado de "posse administrativa").

Foi, portanto, recentemente, depois de retirar o estaleiro, que a Associação fechou contas com a construtora.

Foram gastos 611 mil euros nos trabalhos realizados pela Associação Joãozinho para a construção da nova ala pediátrica do HSJ, que estão integralmente pagos. Foram trabalhos de demolição das velhas estruturas existentes no local.

No início deste mês, em resposta à carta do HSJ, enviei outra vez cópia do cheque e do recibo relativo ao dinheiro recebido e entregue à construtora, bem como as facturas e o detalhe dos trabalhos efectuados no local. Imagino que o HSJ terá feito seguir a minha carta, e documentação anexa, para o DIAP, para explicar como foram gastos esses 548 mil e tal euros.

Fez bem porque esses foram mesmo gastos no destino para o qual os mecenas os doaram. Os outros, até perfazerem, pelo menos,  4 milhões (cf. aqui), e provavelmente muito mais, é que ninguém sabe onde estão.

O meu sentimento de que a administração do HSJ estava a ser apertada, de que alguém lhe estava a pedir contas (podia ser o Ministério da Saúde) pelos dinheiros do Joãozinho permaneceu intacto. Foi confirmado ontem pela notícia da Sábado.

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