O Juiz-Pistoleiro
(Novela)
Cap. 22. Hijacked
Pouco passava das nove da manhã quando um carro celular encostou à porta do aeroporto. Sairam de lá, Joe Pistolas, as mãos algemadas à frente do corpo, e o juiz Francis dos Coldres, atrás dele, com a pistola apontada à nuca do réu.
Assim caminharam em direcção ao check-in da TAP, levando um agente da PSP atrás que transportava as malas. Como o juiz era bastante mais baixo do que o réu, a cena era digna de se ver. O juiz caminhava muito direito, em bicos de pés, parecia um ganso, a pistola sempre encostada à cabeça do arguido.
Chegados ao check-in, o juiz prendeu a Mauser nos dentes para tirar os bilhetes e os passaportes do bolso do casaco, enquanto o agente da PSP depositava as malas no tapete rolante. Um minuto depois, a menina do check-in devolveu os passaportes e entregou os cartões de embarque, que o juiz guardou no bolso, antes de tirar a pistola da boca e a apontar de novo à nuca de Joe Pistolas.
E foi assim que avançaram pelo átrio do aeroporto em direção à zona da segurança, Joe Pistolas à frente, de algemas nos punhos, o juiz atrás, em passo de ganso, a pistola apontada à cabeça do réu.
Foi na zona da segurança que os problemas começaram.
Primeiro, o segurança queria que o juiz tirasse as algemas a Joe Pistolas para passarem pelo detector de metais. O juiz recusou. Mas a grande altercação seria desencadeada quando o segurança quis ficar com a pistola do juiz sob o argumento de que não eram permitidas armas a bordo.
Fica com a pistola... não fica com a pistola..., as vozes foram subindo de tom, até que o juiz, com a mão esquerda, porque a direita estava ocupada no gatilho, tirou do bolso do casaco o seu cartão de juiz e deu voz de prisão ao segurança, como já uma vez tinha feito ao seu irmão mais novo.
A diferença é que dessa vez, a irmã, que estava por perto, recusou-se a chamar a GNR para vir prender o irmão, ao passo que desta vez estava presente um agente do SEF, a quem o juiz deu ordem para prender o segurança.
O agente do SEF fingiu não perceber a ordem do juiz e, em jeito de "Olha...a mim ninguém me disse nada…", disse a um colega que ia tomar café e foi-se embora.
O segurança encheu-se de novo de autoridade e exigiu outra vez ao juiz que entregasse a pistola. Foi nesse momento que o juiz Francis dos Coldres perdeu as estribeiras e, num movimento rápido, fez deslocar a Mauser da nuca de Joe Pistolas para a testa do segurança, ao mesmo tempo que gritava:
-Estouro-te os miolos!...
Perante tão grande ameaça o segurança cedeu, enquanto o juiz, de Mauser na mão, e Joe Pistolas à frente, avançava para a manga de acesso ao avião. O segurança ainda teve tempo para prevenir o comandante que um homem armado que dizia ser juiz, levando à frente outro homem algemado, avançava para a porta da aeronave.
Quando o juiz, com Joe Pistolas à frente, chegou à porta do avião, foi parado pelo comandante que era um homem corpulento e lhe barrou a entrada. Desta vez, o juiz já não perdeu tempo com diálogos. Apontou a pistola à cabeça do comandante, ao mesmo tempo que gritava:
-Estouro-te os miolos!...
Esta era uma receita infalível para tirar toda a gente da sua frente, e que o juiz utilizara pela primeira vez com o irmão mais novo numa rixa de família.
Depois de forçar a entrada no avião, o juiz deu ordens a uma hospedeira para sentar Joe Pistolas no lugar 14B, ao mesmo tempo que, sob a ameaça da pistola, empurrava o comandante para o cockpit.
Foi já no cockpit que lhe ordenou:
-Fecha as portas e levanta vôo!...,
mesmo se mais de metade dos passageiros ainda não tinham embarcado.
Vinte minutos depois o A320 da TAP, os motores a roncar a toda a potência, levantava vôo em direcção a Nova Iorque, enquanto mais de metade dos passageiros assistiam à descolagem da janela do aeroporto dizendo-lhe adeus, alguns de lenço branco nas mãos.
Dois minutos depois, a torre de controlo entrava em contacto com a sua congénere do aeroporto John F. Kennedy com uma mensagem lacónica:
-TAP flight 334... destination JFK, New York... hijacked… Roger.
(Continua aqui)
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