O Juiz-Pistoleiro
(Novela)
Cap. 1. Num duelo
Eram nove e quarenta e cinco da manhã no tribunal de Littlebushes, uma pequena cidade portuguesa situada 315 quilómetros ao norte da capital.
Na primeira fila de cadeiras de tampo metálico, Joe Pistolas, sozinho, 41 anos, t-shirt e calças de ganga, cabelo rapado, os braços profusamente tatuados, segurava uma chave com a qual esgravatava o tampo da cadeira à sua direita, num sinal de nervosismo.
Atrás de si, a sala estava completamente cheia e as pessoas cochichavam ao ouvido umas das outras. Cerca de metade da população de Lady of the Hour, onde o crime tinha tido lugar, estava ali para assistir ao julgamento.
O escrivão entrou na sala e, com um gesto largo, impôs silêncio, para dizer:
-Quando o juiz entrar fazem favor de se levantar...
Minuto e meio depois entrou o juiz, reconhecia-se pela toga, um grande volume debaixo do braço. O processo de Joe Pistolas já ia em 2156 folhas. Atrás dele, também de toga, entrou outro homem.
Joe Pistolas foi o primeiro a levantar-se, ao mesmo tempo que murmurou para si:
-Olha...que giro… dois juízes… pensava que era só um…
Os dois magistrados sentaram-se, o juiz ao centro da tribuna, o outro, distante, à sua direita.
Sentados em secretárias colocadas lateralmente à tribuna estavam os advogados, à direita o advogado pela acusação particular, à esquerda a advogada de defesa.
Joe Pistolas tinha-se recusado a nomear um advogado para o defender. Não acreditava em advogados, dizia que eram todos uns aldrabões. Mas no país ninguém podia defender-se por si próprio. Era obrigatório um advogado. Tinha sido o tribunal a nomear-lhe oficiosamente uma advogada que andava por lá aos caídos.
-Eu sei muito bem defender-me sozinho, caraças… preciso agora desta gaja…,
pensou, enquanto se ajeitava no banco dos réus.
Dentro de momentos iria começar o seu julgamento. Era acusado do crime de homicídio qualificado, um crime comportando uma pena que podia ir até 37 anos de prisão. Tinha morto o irmão à pistola.
Num duelo.
(Continua aqui)
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