Estou agora em vias de fechar a resposta às duas questões que coloquei num post anterior, a saber
(i) Por que é que os portugueses, na sua cultura católica, têm tanta necessidade de obter aprovação da autoridade pública para qualquer iniciativa que tomem em prol do bem-comum?; e
(ii) Por que é que este traço da sua cultura católica é profundamente anti-liberal?
Preciso agora de mais dois passos para completar as respostas, os quais darei nos posts seguintes.
O propósito deste post é apenas o de reiterar que a resposta à primeira questão já ficou, em parte, dada nos posts anteriores, e é a seguinte.
Um português que se envolve num actividade em benefício do bem-comum precisa do conforto da autoridade pública - um ou vários padrinhos políticos - porque é aos políticos que compete prosseguir o bem-público.
Trata-se, portanto, de uma deferência que o português dado a prosseguir o bem-comum tem perante a autoridade política, como que a perguntar-lhe "Aprovas o que eu estou a fazer?", no mesmo sentido em que o afilhado reporta ao padrinho tudo aquilo que fez de bem desde a última vez que o viu (as notas que teve na escola, o bom comportamento na catequese, etc.), como que a inquiri-lo: "Sou um bom rapaz, não sou?".
Porém, esta deferência não é ingénua e tem um interesse escondido por trás. Se o padrinho aprova o bom comportamento do afilhado, aquilo que o afilhado espera é que o padrinho o gratifique, e lhe dê alguma nota, agora já não das de escola, mas uma nota de banco.
E é assim também com o português que espontaneamente se dedica a prosseguir o bem-público. Os políticos aprovam aquilo que ele está a fazer em prol do bem-comum?
Então que paguem!
A lógica é irrepreensível. É por esta lógica que a associação O Ninho se financia quase integralmente através do Estado (cf. aqui). E é assim também que todos os portugueses, enquanto contribuintes e através do Estado, são levados a pagar as manias que qualquer grupo de portugueses, que tenha suficientes conexões políticas, decide levar por diante em nome do bem comum. Eles são os protagonistas do bem, mas a factura é paga pelos outros.
Mesmo quando, depois se vai ver, e a conclusão é a de que o bem público há muito foi subsumido pelo bem privado (cf. aqui).
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