20 setembro 2019

dar voz às prostitutas

Este post visa comparar duas conferências sobre a prostituição e fazer ressaltar uma grande diferença entre elas.

As duas conferências tiveram lugar, respectivamente, em Lisboa, Portugal (2017) e em Mainz, Alemanha (2019).

Existe um elemento comum a ambas as conferências.  Nas duas esteve presente o presidente da Assembleia Geral da associação O Ninho - uma ONG portuguesa que se dedica à protecção das prostitutas (cf. aqui) -, Pedro Vaz Patto.

Na primeira, Pedro Vaz Patto esteve presente na qualidade de especialista em prostituição, sendo o primeiro orador de um painel de especialistas (cf. aqui). Na segunda, em representação da Associação O Ninho, presumo que esteve presente somente como observador. É ele próprio que num recente artigo de jornal reporta sobre essa conferência (cf. aqui).

Pedro Vaz Patto, além de presidente da Assembleia Geral da associação O Ninho e especialista em prostituição, é também presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz - um órgão laico da Conferência Episcopal Portuguesa (cf. aqui) -, e ainda juiz-desembargador do Tribunal da Relação do Porto.

Da informação pública a que tive acesso sobre as duas conferências - que são as duas peças de informação que citei em cima, uma da autoria do próprio juiz Vaz Patto -, o que é que ressalta à vista como sendo a grande diferença entre elas?

É que na conferência da Alemanha, as prostitutas foram chamadas a pronunciar-se, conforme reporta o juiz Vaz Patto, a tal ponto que eu próprio decidi comentar os seus depoimentos (cf. aqui).  Ao passo que na conferência em Portugal não se vê vestígio delas. Há políticos, há familiares de políticos, há padres, há especialistas, há um poeta e há até um juiz, prostitutas é que não há (cf. aqui).

Na Alemanha, as prostitutas, assumindo plenamente os seus direitos de cidadania, vêm a público falar abertamente sobre as questões que afectam a sua actividade. Já em Portugal, quais marginais ou coitadinhas, elas ficam escondidas por detrás das cortinas, e são  especialistas auto-encartados que vêm falar em nome delas.

Por que é que a cultura alemã dá voz às prostitutas e a portuguesa não dá?

É o tema do meu próximo post com o qual pretendo também responder de vez à questão de saber por que é que, na cultura católica, a figura do padrinho é uma figura profundamente anti-liberal.

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