Numa série de posts anteriores (um, dois, três, quatro) procurei ilustrar a diferença entre o liberalismo (esquerda) e o catolicismo (direita), usando como tema a prostituição e um artigo do juiz Pedro Vaz Patto publicado no Observador (cf. aqui).
O meu propósito é o de contribuir para ajudar a distinguir a esquerda da direita; as duas versões que existem da esquerda (liberalismo e socialismo); a evitar que se chamem de direita partidos que são claramente da esquerda socialista (como o PSD e o CDS, embora ambos com franjas da direita); a evitar que se diga que existe uma crise da direita, quando, na realidade, Portugal não tem partidos de direita e a crise é da esquerda social-democrata; a evitar que se chamem de direita políticos que são claramente de esquerda, como é o caso, por exemplo, do Presidente da República.
O artigo do juiz Vaz Patto exprime a posição da Igreja Católica sobre a prostituição (cf. aqui). Na realidade, o juiz Vaz Patto tem sido nos últimos anos uma voz activa na expressão das ideias da verdadeira direita - e, portanto, do catolicismo - na sociedade portuguesa, designadamente na sua condição de presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz (cf. aqui).
E fá-lo com a aprovação das autoridades da Igreja. No Prefácio a um seu livro recentemente publicado (Crónicas Ainda Actuais, Lisboa: Cáritas, 2018) escreve o Cardeal Patriarca, D. Manuel Clemente:
"Desde há muito que nos habituou ao seu discurso claro e fundamentado (…). A formação e prática jurídica treinaram-lhe o rigor na análise dos casos e o acerto nas conclusões (…)
A actualidade dos assuntos que versa é outro motivo de agradecimento pela presente edição. Questões muitas vezes f"racturantes", como são chamadas e com alguma razão. De facto, incidem sobre bases fundamentais da vida e da convivência, pessoal e pública, que até há pouco contavam com o consenso geral. Hoje são frequentemente postas em causa pelo subjectivismo reinante e incidem no campo legal pelo mero positivismo jurídico. Do "é assim porque eu quero ou acho" ao "cumpra-se porque está formulado", assim e sem mais nem antes, a névoa é muita e o piso fragmenta-se, fratura-se.
Periga a sociedade como mútua companhia, quando deixamos partilhar o chão e o rumo. Mais facilmente ainda quando desistimos de nos encontrar nos fundamentos e nos objectivos, nos direitos e deveres (…)
Como o leitor terá ocasião de verificar, a reflexão do Dr. Vaz Patto ajuda muito a ultrapassar tais escolhos (…)." (op. cit., p. 9)
O livro é uma colectânea de crónicas incidindo sobre temas como o aborto, as drogas, a gestação de substituição, a adopção por casais homossexuais, a mudança de sexo, etc., que são invariavelmente apresentados e discutidos com clarividência à luz da fé católica do seu autor.
Para quem anda à procura da direita, e para quem pretende distinguir o liberalismo da direita, eu recomendo, do ponto de vista doutrinal, o juiz Pedro Vaz Patto como um ícone da direita, embora existam manifestos indícios nos seus escritos de que ele provém da extrema-esquerda.
Chegado a este ponto, é altura de perguntar: na questão da prostituição, como em muitas outras questões fracturantes, o que é que, em última instância, distingue um liberal de um intérprete da direita, como o juiz Vaz Patto?
É a questão de saber quem comanda o destino de cada homem (ou mulher) e quem lhe traça o caminho na vida.
Para o liberalismo é o próprio.
Para a direita é a Igreja (uma palavra que significa comunidade) e as tradições que, ao longo dos séculos, se desenvolveram na comunidade (Igreja) onde nasceu - Igreja que, para um português, é obviamente a Igreja Católica.
É o conflito entre o indivíduo e a comunidade. O liberalismo dá primazia ao indivíduo, a direita dá primazia à comunidade (Igreja).
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