16 agosto 2019

Pensar na rainha

(Continuação daqui)


Prostituição e Abolicionismo


II. Pensar na rainha


Eu não sei se a história é verídica, mas pode perfeitamente ser. É a história de uma donzela da aristrocracia britânica que, nas vésperas do casamento, vivia em pânico acerca da noite de núpcias.  Foi a mãe que a tranquilizou: "Olha, filha… nesse momento … pensa na rainha…".

Trata-se aqui da clássica dissociação entre corpo e alma.

Pois o juiz Pedro Vaz Patto viajou propositadamente de Portugal para uma conferência na Alemanha para aprender que as prostitutas também sofrem deste alegado mal - a dissociação entre corpo e alma:

"Dos danos inerentes a qualquer forma de prostituição no plano da saúde psíquica, falaram as especialistas Michaela Huber e Ingeborg Kraus (cujos estudos são divulgados em www.trauma-and-prostitution.eu). Realçaram como o exercício da prostituição conduz à dissociação entre "corpo e alma", à tentativa de alheamento em relação a uma prática corporal que se considera não desejada e repugnante, com graves problemas no plano da estruturação da identidade pessoal" (cf. aqui)

De dissociação entre corpo e alma sofrem as prostitutas e sofrem as mulheres casadas. Na realidade, quantas mulheres casadas com homens que já não amam, ou que são prepotentes e violentos com elas, no momento das relações sexuais, muitas vezes forçadas, deixam o espírito voar para outros lugares e outras companhias como única solução para suportar a situação?

E, no entanto, não ocorreria a ninguém, propor a abolição do casamento por causa da dissociação entre "corpo e alma" que ocorre em mulheres casadas - e, já agora, também em homens casados.

Já antes, o juiz Vaz Patto tinha citado uma ex-prostituta para dramatizar a situação:

"esta é uma forma de escravatura que existe desde há séculos mas que nunca foi tão normalizada (porque apoiada pelo Estado e por organizações filantrópicas) como hoje" (cf. aqui)

A batota com o significado das palavras passa agora a ser evidente. Num país onde a prostituição é livre, ela é sempre consentida e, portanto, não há escravatura nenhuma, e se alguma prostituta se sentir escravizada, não tem mais do que se queixar às autoridades.

Somente num país onde a prostituição esteja criminalizada, como propõe o juiz Pedro Vaz Patto, é que pode haver casos de escravatura, já que aí a prostituta nunca poderá queixar-se às autoridades dos abusos a que seja eventualmente submetida porque ela própria está a cometer um crime.

Muito se tem escrito acerca dos abusos, não de natureza corporal, mas de natureza espiritual a que as mulheres estão sujeitas no seio do Movimento dos Focolares. E, de facto, quem olha de fora, fica por vezes arrepiado com a despersonalização e a submissão a que elas estão sujeitas (cf. aqui). Porém, não se pode falar propriamente em escravatura espiritual porque, no fim de contas, elas aderiram ao Movimento dos Focolares de livre vontade. E muito menos recomendar a abolição do Movimento dos Focolares por causa disso.

O mesmo vale para as mulheres que livremente aderiram ao casamento e para aquelas outras que, por sua própria e livre vontade, aderiram à prostituição, embora mais tarde se tenham arrependido.

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