18 janeiro 2019

combinação explosiva

Como é que um hospital que, em boa parte das suas instalações está decrépito, e faz parte de um Sistema Nacional de Saúde falido, tem a arrogância e o desplante de rejeitar uma ala pediátrica que muitos, senão mesmo todos, os portugueses, para além dos impostos que já pagam, estão generosamente dispostos a oferecer-lhe?

Da minha experiência de cinco anos à frente da Associação Joãozinho, a resposta encontra-se em dois factores cuja combinação é explosiva: ideologia política e interesses corporativos.

Mas tudo o que se tem dito e escrito nos últimos meses acerca do HSJ - raramente algo de bom, por vezes com alguma injustiça - é um sintoma de uma outra realidade, a perda de importância progressiva do HSJ como hospital central de toda a região norte do país.

Quando em 2014 e 2015 visitei pessoas e empresas no Minho para angariar mecenas para o Joãozinho, apercebi-me que, nesta região, mais do que em qualquer outra - incluindo o Porto, onde o hospital está situado -, o HSJ era quase um deus. Talvez em Trás-os-Montes o sentimento fosse idêntico, mas aí não tive experiência suficiente.

Em breve, me apercebi da razão. Perante um acidente ou uma doença grave nessas regiões, a solução era: "Ambulância e Hospital de São João do Porto".

É esta situação que está agora a mudar porque entretanto apareceram muitos outros hospitais. E o mais importante de todos para retirar centralidade ao HSJ foi o novo Hospital de Braga (cf. aqui), também ele um hospital universitário como o HSJ. A ideia de um grande hospital central, servindo toda uma grande grande região, passou definitivamente de moda.

E a própria concepção arquitectónica do HSJ também. É um projecto de arquitectura alemão dos anos 30 do século passado, o tempo do nazismo. Ainda existem sete em todo o mundo, dois dos quais em Portugal.

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