14 setembro 2018

Efeito Porto-Canal

A voz era lenta e entaramelada, os olhos pequeninos e ligeiramente luzidios, a tez avermelhada - tudo sinais que na altura eu atribuí a doença cardíaca.

Ainda por cima, o depoimento estava a ter lugar logo a seguir ao almoço.

O Dr. José de Freitas - sócio fundador do escritório da Cuatrecasas no Porto - descrevia ao tribunal as consequências nacionais e internacionais que o meu comentário no Porto Canal  tinha tido sobre a sociedade.

O ar era compreensivelmente pesaroso, a voz cada vez mais arrastada e enrolada, o brilho nos olhos parecia agora transformar-se em lágrimas.

Sentado no banco dos réus, cabeça baixa, até eu me comovi, quando ele anunciou o desfecho previsível e que agora parecia inelutável: "Não há estrutura que resista a uma coisa destas" (cf. aqui).

-Talvez seja um exagero... a seguir ao almoço deve-lhe dar para o sentimento..., 

pensei eu, procurando confortar-me pelas consequências não-desejadas do hediondo crime que cometera.

Afinal, era verdade. A Cuatrecasas está a caminho da extinção. Em 2017 perdeu 8,2% da facturação (cf. aqui). A este ritmo, desaparece em menos de uma década.

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