16 setembro 2018

Crimes em saldo (I)

Um homem diz um piropo a uma mulher, é crime; dá um estalo a um filho, é crime; diz que o burro é do cigano, é crime; diz que a batatas do Continente estão podres, é crime; chama safado a um político, é crime.

Não existe relação social que não esteja criminalizada. A quem aproveita a criminalização da sociedade, e qual a natureza do negócio que corre por detrás deste excesso de legalismo penal que transforma praticamente todos as relações humanas em crime?

Há sociedades comerciais que promovem a venda de crimes como outras que promovem a  venda de automóveis. E, tal como nos automóveis, há crimes para todos os gostos e feitios, e acessíveis a todas as bolsas. Também há crimes em saldo. É um negócio de milhões (cf. aqui).

Eu preparo-me para contar uma história em que recentemente me quiseram vender dois crimes pelo preço exorbitante de 100 mil euros, uma história que tem muitas semelhanças com a do burro e do cigano. É que, a certa altura, os vendedores já me propunham a venda  a um preço de saldo de cinco mil euros. Eu desconfiei da fartura:

-Cinco mil euros!?... Então eles queriam 100 mil!...O burro deve estar doente, com certeza...Ou então eles querem-me vender burro por lebre...

E não aceitei a bagatela, mesmo a um desconto de 95%.

Será que fiz bem?

Pois esse é o grande mistério desta transacção que teve como principal intermediário (broker) pelo lado dos vendedores - uma espécie de comissionista -, uma figura imensamente ternurenta que eu viria a baptizar mais tarde com o nome igualmente carinhoso de Papá Encarnação.

(Continua)

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