É altura de dizer aquilo que, na minha própria avaliação, conseguiu o blogue.
Não sem antes dizer como é que, na minha avaliação também, eu teria saído deste julgamento se não tivesse o blogue.
Teria saído grelhado, o carácter desfeito, carregado de insinuações e suspeitas, e provavelmente com várias "certidões" tiradas durante o julgamento e que dariam lugar a outras tantas "investigações" do Ministério Público. Estaria feito para a vida.
Sob o comando do Papá Encarnação, e tendo o filho como auxiliar, eu tinha pela frente esta armada de testemunhas (cf. aqui). A desproporção de forças era enorme e a maior parte dos membros da armada conheciam-se uns aos outros e eram advogados. Podiam combinar todas as estratégias de ataque que quisessem.
Ainda por cima, estavam a combater em casa. Faziam vida em tribunais, conheciam os truques todos, tinham experiência e as manhas, sabiam utilizar as regras em seu favor. Comparado com eles, eu era um verdadeiro anjinho, duplamente anjinho se decidisse combatê-los no seu próprio terreno.
Fui o primeiro a depôr na primeira sessão do julgamento mas, na altura, para responder às perguntas que me fizeram. Só voltaria a falar, agora sim, de forma espontânea, na última sessão do julgamento e em último lugar.
Entretanto, tinham decorrido quatro meses e seis sessões e meia de julgamento, e tinham deposto 14 testemunhas de acusação (a maioria advogados) e somente uma de defesa.
Como é que na intervenção final eu seria capaz de me defender das centenas de mentiras, insinuações, depreciações e suspeições que entretanto tinham sido lançadas sobre mim?
Não havia maneira.
Logo na primeira sessão, quando o Papá Encarnação falou, ao intervalo para almoço, eu perguntei à minha advogada:
-O que é que ele quer com isto?
E ela explicou-me:
-É a personalidade...
Percebi, queria assassinar a minha personalidade. E vinha com força.
Cheguei a casa e comecei a disparar a partir do blogue. Foi fogo cerrado.
E se a armada inicialmente avançou contra mim confiante, em bloco, passo estugado e em força, os disparos do blogue fizeram-na parar. Houve mesmo um momento em que lancei uma granada que a pôs em debandada (cf. aqui).
A armada demorou tempo a recompor-se. E quando se recompôs, avançava devagarinho, às vezes timidamente, em pequeno passos subtis.
Até que surgiu aquele artigo do JN (cf. aqui). Foi uma bomba que caiu sobre a armada. Uma bomba que era feita do mesmo material destrutivo da minha granada. Novo alvoroço nas hostes. A sorte também me ajudou, logo no dia seguinte, com a avalanche de notícias sobre a situação das crianças no HSJ, uma espécie de inverno russo que se abateu sobre a armada.
Na verdade, a armada parecia-se agora mais com as tropas do Napoleão a combater na Rússia. O Napoleão era, obviamente, o Papá Encarnação, mas ele próprio mais parecia agora um Napoleão de hospício.
Foi neste estado que a armada viu aproximar-se o fim do julgamento, já não atacava há muito e tinha de fazer alguma coisa, nem que fosse um acto de desespero ou de heroísmo.
Já não podia atacar em bloco, estava destroçada. E foi então que fez avançar um soldado sozinho para o ataque final, um ataque que ela pretendia decisivo, mas que era sobretudo desesperado. Só um herói, na verdade, ou um homem que não estivesse no seu perfeito juízo, se prestaria àquele papel.
Ele deve ter pensado duas vezes antes de aceitar a missão, hesitado e, a certa altura, pareceu mesmo ter desertado (cf. aqui).
Mas acabou por comparecer à chamada.
À medida que avançou em tribunal, pensei:
-Ele é um kamikaze...
e acrescentei aos meus pensamentos:
-Ele é alvo demasiado fácil para o blogue...
E depois de o observar por alguns momentos, eu já tinha encontrado a munição:
-Meu Deus, o estado em que ele está...
Conclusão: O principal mérito do blogue foi o de ter contido o avanço da armada. Sem ele, eu teria sido cilindrado.
1 comentário:
pela sua descrição, o ar do soldado não seria de um kamikaze, mas mais de um desgraçado que sabe que se voltar para as trincheiras amigas leva um tiro
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