I. Autoridade: Onde está?
A palavra autoridade deriva de autor (criador) e exprime a qualidade de autor.
Cristo emergiu no mundo no seio da cultura judaica. Ora, a religião judaica é uma "religião de direito" (do latim: directus), isto é, uma religião de normas, regras, leis.
Estas leis - que são 613 no total (cf. aqui) - constituem a chamada Lei de Moisés que está contida na Bíblia Judaica (os cinco primeiros livros da Bíblia - a Torá).
Para os judeus, então, Deus, o autor, está nas leis, e a sua autoridade exprime-se na Lei de Moisés.
O judaísmo já na altura se dividia em várias seitas ou partidos (saduceus, filisteus, fariseus, etc.) que rivalizavam fortemente na interpretaçãos da lei mosaica. A seita ou partido mais legalista e de onde sairiam os mais influentes juristas ou Mestres da Lei era a dos fariseus.
É com eles que Cristo vai travar uma das suas grandes batalhas.
Diz-se por vezes que a mensagem cristã não tem nenhum conteúdo político. Na realidade, porém, do ponto de vista político, a mensagem de Cristo é importante.
Aquilo que Cristo veio dizer é que Deus, o autor - e portanto, a autoridade - não está nada nas leis. De facto, ele colocou-se acima da Lei, ele revogou várias leis, não ligou nenhuma a outras tantas e reduziu todas a uma só : amar a Deus e aos homens como a si mesmo.
Para ele, Deus - o autor e a autoridade - não está nada nas Leis. Está nele, que é um homem (e, em menor medida, em todos os outros homens).
Esta dicotomia, se a autoridade está nas leis ou nos homens, é aquela que ainda hoje separa os regimes políticos, entre o "Estado de Direito" democrático (a concepção judaica, adoptada mais tarde pelo cristianismo protestante sob influência do judaísmo), e o Estado dito autoritário, centrado na autoridade de um homem, que é a concepção cristã (mantida pela Igreja Católica, e de que ela própria dá o exemplo).
Sem comentários:
Enviar um comentário