Tudo junto, aquilo que o Dr. Oliveira e Silva me pedia significava a liquidação da Associação Joãozinho e da minha própria pessoa.
A pressão que exerceu foi grande. Chegou a mencionar a possibilidade de processos judiciais - como se o incumpridor fosse a Associação Joãozinho e não o HSJ. Obviamente, com a Cuatrecasas por trás, tudo era possível. E não deixou de salientar que, em termos públicos, o odioso da obra não se realizar recairia sobre mim.
Eu não acreditava que, por ele, pudesse fazer uma coisa destas.
Estava, de certeza, a cumprir ordens.
E estava de boa-fé. Ele acreditava que os seus superiores hierárquicos do Ministério da Saúde - Ministro e/ou Secretários de Estado - lhe dariam o dinheiro prometido para fazer a obra. E esperava-o naquele Despacho do Secretário de Estado Manuel Delgado.
Porém, o Secretário de Estado Manuel Delgado, em lugar de lhe dar o dinheiro, deu-lhe uma Comissão.
E o Despacho, ao mesmo tempo que punha a descoberto uma mentira, abria outras. A Comissão iria ser nomeada para trabalhos que iriam consumir muito tempo, mas tinha de reportar dentro de 35 dias. Ora, nos vagares da administração pública, 35 dias não era tempo sequer suficiente para nomear a Comissão.
O Dr. Oliveira e Silva ficou muito decepcionado, e eu pude testemunhar a sua decepção. E também se devia sentir muito descredibilizado perante mim. Ele não iria poder manter-se naquela posição por muito tempo. A notícia do Público tinha sido um enorme bluff para pôr a Associação Joãozinho fora do Hospital sem que houvesse qualquer intenção imediata de o Ministério da Saúde fazer a obra, e muito menos dispor do dinheiro.
Estivemos quase dois meses sem nos vermos até que, no início de Maio, voltou a contactar-me. Vinha pedir-me o mesmo, que a Associação Joãozinho abandonasse o espaço da obra porque no dia 1 de Junho, que era o Dia Mundial da Criança, o Ministro da Saúde queria vir ao HSJ a uma cerimónia anunciar a construção da nova ala pediátrica do Hospital. E eu estava convidado.
No meu espírito, rejeitei liminarmente o convite, e continuava a não acreditar no que ouvia. Aos meus olhos, o Dr. Oliveira e Silva estava em vias de se transformar num "pirata mau". E ele pressentiu isso, por isso me disse logo que o Secretário de Estado Fernando Araújo estava disposto a vir ao Porto falar comigo.
Por outras palavras, o Dr. Oliveira e Silva que até aí também tinha sido um obstáculo a que a Associação Joãozinho fizesse a obra, saía da frente e passava o caso para a hierarquia. Aceitei a reunião. Agora, já não era eu que ia ao Ministério da Saúde, era o Ministério da Saúde que vinha a mim.
Mas para que não perdêssemos tempo, enviei-lhe um e-mail com as condições mínimas para cooperar, e pedi-lhe que o remetesse ao Secretário de Estado. As condições eram as seguintes:
1) Que o HSJ desimpeça o espaço e a Associação Joãozinho possa prosseguir a obra até exaurir os recursos financeiros que lhe foram confiados pelos mecenas para esse fim.
2) Que o HSJ dê continuidade à obra assumindo a posição contratual que a Associação possui com o consórcio Lucios-Somague.
3) Que a Associação disponha de um compromisso oficial - que não seja apenas verbal - de que o Ministério da Saúde assegura a continuidade imediata da obra e o seu pagamento até ao fim.
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