Dragão Solidário
No dia em que completei 33 anos na presidência do FC Porto, tive a enorme alegria de ver o «Dragão Caixa» transformado em Dragão Solidário.
De facto, na Gala Joãozinho, ali realizada, respirou-se solidariedade.
Um conjunto de pessoas e instituições juntaram-se para dar o «pontapé de saída» para a construção duma ala pediátrica no Hospital S. João para as crianças que sofrem de cancro e hoje estão instaladas em condições desumanas.
Foi lindo o espectáculo, foi comovente o espirito de união entre todos, para uma obra que devia competir ao estado realizar, mas que só «arrancou» pela vontade dos que aqui estiveram no dia 23 de Abril.
Desde logo tenho que salientar e agradecer a lição de vida em favor dos necessitados, que o Prof. Pedro Arroja, alma mater do evento, nos transmitia a todos, sem excepção.
Por isso, a presença do nosso querido Bispo do Porto D. António Francisco dos Santos, verdadeiramente a primeira figura da nossa cidade, que nos marcou a todos, como sinal do caminho a seguir – lutar para que o pavilhão se construa.
E ele será construído!
Há empresas que não têm no seu vocabulário, apenas, a palavra ganhar, mas também a «solidariedade». Só assim a Somague e a Lucius iniciaram a obra, acreditando nos homens, e pensando nas crianças doentes.
As grandes instituições da cidade, que são o nosso orgulho, estiveram «quase» todas representadas,
- A universidade na pessoa do seu Digníssimo Reitor Professor Doutor Sebastião Feyo de Azevedo.
- O Hospital de S. João com uma equipa liderada pelo Presidente do Conselho de Administração, Professor Doutor António Ferreira.
- A Santa Casa da Misericórdia do Porto, com uma delegação que incluía o seu provedor António Tavares.
- A Câmara Municipal de Gaia com uma representação significativa, em que figurava o seu Presidente Dr. Eduardo Vitor Rodrigues.
- A presença do deputado Luis Montenegro, do Prof. Sobrinho Simões, do Dr. Silva Peneda, e tanta gente do mais alto gabarito da sociedade nortenha, fazem-nos acreditar que a obra não será só um sonho.
Por último mencionar com uma profunda gratidão, a presença sem encargos dos artistas Rui Reininho e Paulo Gonzo. Grandes artistas e enormes seres humanos. Ambos, desde a primeira hora aderiram à causa, de alma e coração.
Poucos dias antes da Gala, a querida companheira do Paulo Gonzo, Pequenina Rodrigues, sofreu um terrivel acidente, que lhe provocaram danos que a levaram a um estado de coma. Mesmo assim, e explicando-me que não podia fazer nada, nem estar junto do seu amor, entendeu estar presente para poder ajudar as crianças que sofrem. Que grandeza de alma, que coração cheio de amor isto revela. Que lição para todos. Que orgulho do Paulo, terá neste momento Pequenina Rodrigues, que entretanto partiu para junto de Deus (...).
Foi depois ler este artigo do presidente Pinto da Costa, que naturalmente me encheu de satisfação, que comecei a ler o protocolo que tinha acabado de receber do Hospital de S. João.
À medida que os meus olhos iam passando pelo clausulado, lentamente eu ia interiorizando a mensagem que aquele documento trazia para mim e para a Associação Joãozinho: "Não assinem!".
E a mensagem era transmitida com requintes. Chegava ao ponto de imputar à Associação Joãozinho a obtenção das licenças de construção para a ala pediátrica do HSJ, como se fosse possível a Associação pedir licenças para construir em terrenos que não eram seus.
E a mensagem era transmitida com requintes. Chegava ao ponto de imputar à Associação Joãozinho a obtenção das licenças de construção para a ala pediátrica do HSJ, como se fosse possível a Associação pedir licenças para construir em terrenos que não eram seus.
Naquele momento, eu estava pronto a subir pelas paredes acima, mas decidi não me precipitar. Telefonei ao Dr. Miguel Cadilhe pedindo-lhe que passasse pelo meu escritório, tinha um assunto a tratar com ele. Eu não queria cometer nenhuma injustiça para com o Hospital de S. João, e ninguém como o Dr. Miguel Cadilhe para me conter.
Ele era um grande amigo do HSJ. Ele tinha sido o fundador da Liga dos Amigos do Hospital de S. João e era o seu sócio número um. Tinha sido por sua acção que a Liga já tinha entregue vinte mil euros à Associação para a obra do Joãozinho.
No dia seguinte, estávamos os dois no meu gabinete. Dei-lhe o documento a ler com a pergunta "O senhor assinava este documento se estivesse no meu lugar?", e fiquei em silêncio.
No fim, quando levantou a cabeça disse, com um ar pesaroso:
-É um documento leonino... ingrato ... e...,
utilizando um terceiro adjectivo que não recordo.
No mesmo dia telefonei ao presidente de uma empresa que tinha assinado dias antes um grande acordo de mecenato com a Associação Joãozinho e enviei-lhe o documento por e-mail. No dia seguinte, voltei a ligar-lhe para saber a reacção:
-Até me deu volta ao estômago...
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