Até ao dia em que os telefones do HSJ deixaram de ser atendidos.
Tomei a decisão já no final da semana. O meu próximo comentário no Porto Canal estava à distância de poucos dias. A minha inspiração era Jesus Cristo (Mt: 23). Ele falou à multidão para dizer, alto e bom-som, o que pensava dos fariseus. Deve-lhe ter custado fazer aquilo - a ele, que era um homem que pregava a amizade entre os homens. Mas tinha de ser, ele era a verdade e os fariseus eram só aparência. Havia que separar as águas.
Eu tinha só de escolher o alvo e as palavras certas. Não podia falhar. A margem de erro era zero.
Ninguém iria compreender que o presidente de uma associação mecenática que estava a fazer uma obra em favor das crianças internadas no HSJ se pusesse, em público, contra a administração do próprio Hospital, nem eu tinha, na altura, sinais que implicassem o Hospital. Pelo contrário, tinha era a evidência naquele documento, que podia exibir publicamente, contra a Cuatrecasas. O alvo iria ser a Cuatrecasas, que era a autora do documento.
Eu não sabia quem, na Cuatrecasas, tinha redigido o documento, nem procurei saber. Mas sabia quem era o director. E o director de uma empresa tem obrigação de saber o trabalho que se faz lá dentro e o que sai cá para fora.
Enquanto nesses dias corria sobre os passadiços de Miramar e Francelos, procurei escolher meticulosamente as palavras. Tinham de ser contundentes para despertar o interesse público que eu visava atingir, mas não podiam ser excessivas. Contundência e equilíbrio eram as palavras de ordem. Preparei o tom e, gradualmente, o discurso foi-se construindo no meu espírito.
Na Segunda-feira de manhã, como habitualmente, informei a Fátima Ribeiro de Almeida, produtora do Porto Canal, acerca do teor do meu comentário para essa noite.
Reproduzo o e-mail:
A obra do Joãozinho foi parada.
A política meteu-se pelo
meio.
Por cada dia que passa é mais um dia
em que as crianças sofrendo das doenças as mais graves em toda a região Norte, e
que vão parar ao HSJ, ficam internadas num barracão feito de contentores
metalicos e não num moderno edifício de 5 qndares que a comunidade portuguesa
pretende oferecer ao HSJ.
O boicote a esta obra humanitária
veio através da sociedade de Advogados Cuatrecasas, cujo Director no Porto é o
deputado do PSD Paulo Rangel.
Comentarei em seguida sobre a
promiscuidade entre política e negócios e, em especial, entre política e
sociedades de advogados.
Pedro
Arroja.
Saiu tudo na perfeição. Directo, contundente, certeiro, impressivo, arrasador.
Consequências? A Cristo tinham-no pregado na cruz. A mim, logo se veria. Mas que eu estava a lidar com verdadeiros fariseus, disso eu já não tinha dúvidas nenhumas.
Dois dias depois, já tinha os primeiros sinais e eram positivos. Uma semana depois, o Hospital de S. João estava a aceitar uma versão razoável do protocolo tripartido que, estando embora ainda longe das minhas expectativas, acabei, mais tarde, por assinar.
Sem comentários:
Enviar um comentário