28 agosto 2017

fariseus

Durante um mês a Associação procurou negociar o protocolo com o HSJ, eu com o professor António Ferreira, a Dra. Fátima Pereira com o Dr. João Oliveira.  Estávamos agora sob grande pressão porque a construtora tinha as equipas de trabalho contratadas, os custos estavam a correr, e não havia obra.

Até ao dia em que os telefones do HSJ deixaram de ser atendidos.

Tomei a decisão já no final da semana. O meu próximo comentário no Porto Canal estava à distância de poucos dias. A minha inspiração era Jesus Cristo (Mt: 23). Ele falou à multidão para dizer, alto e bom-som, o que pensava dos fariseus. Deve-lhe ter custado fazer aquilo - a ele, que era um homem que pregava a amizade entre os homens. Mas tinha de ser, ele era a verdade e os fariseus eram só aparência. Havia que separar as águas.

Eu tinha só de escolher o alvo e as palavras certas. Não podia falhar. A margem de erro era zero.

Ninguém iria compreender que o presidente de uma associação mecenática que estava a fazer uma obra em favor das crianças internadas no HSJ se pusesse, em público, contra a administração do próprio Hospital, nem eu tinha, na altura, sinais que implicassem o Hospital. Pelo contrário, tinha era a evidência naquele documento, que podia exibir publicamente, contra a Cuatrecasas. O alvo iria ser a Cuatrecasas, que era a autora do documento.

Eu não sabia quem, na Cuatrecasas, tinha redigido o documento, nem procurei saber. Mas sabia quem era o director.  E o director de uma empresa tem obrigação de saber o trabalho que se faz lá dentro e o que sai cá para fora.

Enquanto nesses dias corria sobre os passadiços de Miramar e Francelos, procurei escolher meticulosamente as palavras. Tinham de ser contundentes para despertar o interesse público que eu visava atingir, mas não podiam ser excessivas. Contundência e equilíbrio eram as palavras de ordem. Preparei o tom e, gradualmente, o discurso foi-se construindo no meu espírito.

Na Segunda-feira de manhã, como habitualmente, informei a Fátima Ribeiro de Almeida, produtora do Porto Canal, acerca do teor do meu comentário para essa noite.

Reproduzo o e-mail:

A obra do Joãozinho foi parada.

A política meteu-se pelo meio.

Por cada dia que passa é mais um dia em que as crianças sofrendo das doenças as mais graves em toda a região Norte, e que vão parar ao HSJ, ficam internadas num barracão feito de contentores metalicos e não num moderno edifício de 5 qndares que a comunidade portuguesa pretende oferecer ao HSJ.

O boicote a esta obra humanitária veio através da sociedade de Advogados Cuatrecasas, cujo Director no Porto é o deputado do PSD Paulo Rangel.

Comentarei em seguida sobre a promiscuidade entre política e negócios e, em especial, entre política e sociedades de advogados.

Pedro Arroja.


Saiu tudo na perfeição. Directo, contundente, certeiro, impressivo, arrasador.

Consequências? A Cristo tinham-no pregado na cruz. A mim, logo se veria. Mas que eu estava a lidar com verdadeiros fariseus, disso eu já não tinha dúvidas nenhumas.

Dois dias depois, já tinha os primeiros sinais e eram positivos. Uma semana depois, o Hospital de S. João estava a aceitar uma versão razoável do protocolo tripartido que, estando embora ainda longe das minhas expectativas, acabei, mais tarde, por assinar.

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