O Jantar de Gala no Pavilhão Dragão-Caixa esteve inicialmente agendado para 2 de Março, véspera da cerimónia do lançamento da primeira-pedra, que teria lugar na manhã seguinte no HSJ, e na qual estava prevista a presença do primeiro-ministro. Muitos convidados viriam de Lisboa e, assim, juntavam os dois eventos numa só deslocação ao Porto, pernoitando na cidade.
Estávamos no início de Fevereiro, e era preciso trabalhar depressa, em pelo menos duas frentes. Primeiro, arranjar trezentos convidados para encher o Pavilhão Dragão-Caixa, ao preço de mil euros por pessoa. Segundo, finalizar o trabalho com a Teixeira Duarte para que a cerimónia do lançamento da primeira-pedra não fosse apenas uma cerimónia (como já tinha acontecido várias vezes no passado), mas o lançamento efectivo da obra com a construtora no local.
Olhando em retrospectiva, aquele mês de Fevereiro viria a ser um mês estranho, muito estranho, em que pela primeira vez eu senti que alguma coisa não estava bem mas, na altura, não sabia o quê nem porquê.
No almoço com o presidente Pinto da Costa, duas semanas antes, tínhamos tomado várias decisões no que respeita ao Jantar de Gala.
Primeiro, não haveria borlas.
Segundo, o trabalho de angariação dos convidados - na realidade, mecenas - para o Jantar seria repartido entre o F.C. Porto, a Associação Joãozinho e o HSJ, ficando eu encarregado de pedir ao Professor António Ferreira que agisse para esse fim. O objectivo era contactar empresas que comprassem mesas (de oito lugares), pondo lá quem quisessem. O presidente Pinto da Costa e eu próprio daríamos o exemplo, comprando uma mesa cada um. A Associação Joãozinho centralizaria todas as confirmações.
O terceiro ponto respeitava à Dra. Manuela Eanes. Quando contei a história do meu trabalho ao presidente Pinto da Costa mencionei o "Milagre das Manuelas" e como tinha sido decisivo para a obra do Joãozinho que estava à beira de se concretizar. Disse-lhe então que, por minha vontade, a nova ala pediátrica do HSJ se chamaria "Hospital Pediátrico Dra. Manuela Eanes". Ela estava agora com mais de 80 anos e tinha passado uma vida a fazer bem a crianças.
Ele achou a ideia maravilhosa. Desde os ano 80, quando o general Eanes era Presidente, que se tinha estabelecido uma grande relação de amizade entre ele e o casal Eanes. Ele próprio se encarregaria de convidar o casal Eanes e o nome do hospital seria anunciado durante o Jantar. Fiquei eu de falar com o Professor António Ferreira sobre o assunto e obter o seu acordo. E preparei até um texto a suportar a ideia que, dias mais tarde, lhe enviei por e-mail.
Em meados do mês, eu desdobrava-me em convites para o Jantar e em reuniões com a Teixeira Duarte. Do F.C. Porto tinham chegado à Associação várias confirmações e a Associação também já tinha algumas. Do Hospital de S. João é que não tinha vindo nenhuma.
No Domingo, a uma semana da realização do Jantar, o Professor António Ferreira fez questão de vir à nossa reunião executiva semanal, que se realizava nas instalações da minha empresa. Vinha pedir, quase exigir, o adiamento do Jantar. Resisti o mais que pude, depois de todo aquele trabalho que o F.C.Porto e a Associação tinham tido para angariar os convidados. Mas, muito contrariado, acabei por ceder.
Ainda pensei que obteria alguma gratificação quando lhe perguntei se ele tinha lido o e-mail que lhe tinha enviado com a sugestão do presidente Pinto da Costa e minha de dar o nome da Dra. Manuela Eanes à nova ala pediátrica do HSJ, mas ele respondeu-me:
-Qual e-mail?...
O Jantar de Gala acabaria por se realizar mês e meio depois. Nenhuma mesa foi angariada pelo HSJ e nenhum administrador do HSJ esteve presente. A única excepção foi o Professor António Ferreira que foi convidado pessoalmente pelo presidente Pinto da Costa para a sua mesa. Quem eu fiquei a admirar foi a Professora Amélia Ferreira, nova directora da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, que reservou uma mesa em nome da Faculdade e lutou enormemente com a burocracia até a pagar.
Porém, o pior do mês de Fevereiro estava ainda para chegar. E seria muito pior.
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