A reunião que tive no Novo Banco a 29 de Outubro de 2014 no Porto foi, sob vários aspectos, tão penosa, que me custa recordá-la. Valem-me as notas que escrevi na altura. A resolução do BES tinha ocorrido nesse Verão e o ambiente no Banco era imensamente tenso.
Fui recebido por um director e um director-adjunto, dois homens ainda novos, talvez na casa dos quarenta anos. Via-se que eram quadro superiores recentemente promovidos a lugares de direcção para substituir a administração do Dr. Ricardo Salgado que fora toda destituída.
Para amenizar o ambiente, entrei na sala a dizer,
-Muito prazer em conhecer-vos ... mas eu não gostaria de estar no vosso lugar...
Falámos sobre a situação do Banco e as frentes de trabalho em que eles estavam envolvidos, todas cheias de dificuldades. Tinham de reduzir a carteira de crédito em mais de 30%, os depósitos fugiam do Banco, e os despedimentos à vista eram muitos.
E aqui estava um cliente que lhes ia pedir crédito, ainda por cima "humanitário".
O director conhecia muito bem o Joãozinho. Tinha sido ele o executivo do Banco, sob a administração do Dr. Ricardo Salgado e do Dr. Jorge Martins no norte, que sempre tinha conduzido o mecenato do BES em relação ao Joãozinho. Contou-me que há cerca de dois anos, o Professor António Ferreira tinha pedido um milhão de euros ao BES para construir a nova ala pediátrica do HSJ.
Tinha sido ele a pôr de pé o pacote financeiro sob a autorização superior do Dr. Ricardo Salgado. O pacote incluía a afectação da doação anual de 40 mil euros que o BES faz ao HSJ exclusivamente ao Projecto Joãozinho, até a obra estar paga; a antecipação das rendas que o BES paga ao HSJ até ao final do contrato, previsto para 2017; outras medidas, de que ele agora não se recordava.
Tudo isto totalizava 880 mil euros. Para perfazer o milhão, o Dr. Ricardo Salgado autorizou pessoalmente que a diferença de 120 mil euros fosse entregue em dinheiro.
O HSJ encaixou os 120 mil euros em dinheiro. Mas quanto às outras medidas do pacote nem sequer respondeu, apesar das várias insistências do Banco.
Fiquei boquiaberto, e sem saber o que dizer. Ter ali à mão um milhão de euros para construir a ala pediátrica, e virar-lhe as costas - excepto ao cash - era algo que não conseguia compreender, eu que, desde há meses, percorria o país para arranjar dinheiro para a obra.
Perguntei-lhe se o pacote financeiro se mantinha de pé. Respondeu-me que, dadas as condições difíceis que o Banco vivia, era pouco provável. Mas que iria tentar junto da administração em Lisboa. Pela minha parte, eu iria pedir ao Professor António Ferreira para aceitar o pacote.
E assim fiz. Mas, tal como acontecera antes com o BES, também eu nunca obtive resposta.
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