25 agosto 2017

humanitário

Quando regressei de férias em Setembro, considerei que era o momento também de iniciar o "Dossier Banca". Não que eu não tivesse feito ainda qualquer contacto com a banca a propósito do Joãozinho. Na realidade, um dos primeiros contactos que fiz, logo em Março, foi com um banco - o BES.

O BES era o principal banqueiro do HSJ e possuía uma agência nas instalações do Hospital por onde passavam os vencimentos dos seus mais de cinco mil e setecentos empregados e que tinha a reputação de ser a agência bancária mais rentável do país.

Encontrei-me no edifício-sede do BES no Porto, na Avenida dos Aliados, com o administrador para o norte, Dr. Jorge Martins, que estava acompanhado pelo director, Dr. Miguel Ferreira. Nenhum de nós podia imaginar nesse dia que, cinco meses depois, o BES já não existiria e nenhum dos dois permaneceria no seu respectivo lugar.

Enquanto o Projecto Joãozinho esteve sob a tutela do HSJ, o BES foi o seu maior mecenas, seguido, talvez, pela PT. Precisamente por isso, e em virtude da sua relação de negócios com o HSJ, o BES era um caso especial e que eu trataria à parte dos outros bancos.

E o que é que eu tinha para pedir aos bancos?

Um "financiamento humanitário" - uma expressão inovadora no mundo da banca e que eu próprio criei. Imagina-se logo que eu andava à procura de financiamento com uma taxa de juro baixíssima, até inferior à Euribor. Sim, também era isso, mas não era sobretudo isso que eu significava com a expressão.

Por "financiamento humanitário" eu significava, principalmente, um financiamento assente em garantias que eram geralmente mais frágeis do que aquelas que a banca normalmente exige, mas, em virtude do carácter humanitário da obra, eram as únicas que eu tinha para dar.

E que garantias eram essas?

Eram de três ordens. Primeiro, as receitas correntes da Associação provenientes de contribuições mecenáticas eventuais, e sem carácter recorrente. Muitas empresas multinacionais podiam comprometer-se com uma contribuição este ano, e talvez também para o outro, mas não por mais tempo, porque os mandatos das administrações eram geralmente limitados a três ou quatro anos, e a administração que viesse a seguir não podia estar vinculada pelas decisões mecenáticas da anterior.

Segundo, iria ter acordos de mecenato com empresas, com contribuições plurianuais que variariam entre três e dez anos. Evidentemente, estes acordos eram garantias frágeis para os bancos. Eles previam contribuições da empresa sob certas condições (v.g., a obra estar em andamento), mas não eram compromissos absolutamente vinculativos e que se pudessem fazer valer em tribunal.

Terceiro, teria protocolos tripartidos, em que o HSJ, que seria o dono da ala pediátrica, cederia um direito (v.g., naming) ou se comprometia a prestar um serviço (v.g., assistência às crianças deficientes protegidas pelo senhor Américo Amorim) e em que a empresa beneficiária se comprometia, por seu turno, por um certo número de anos, a fazer uma contribuição à Associação Joãozinho, sendo o produto desta contribuição destinado ao pagamento da obra.

A prestação de cuidados de saúde a crianças africanas, financiada pelas fundações associadas às multinacionais farmacêuticas, estava aqui incluída.

Em Dezembro, eu  estava na sede do Santander, em Lisboa, e fui recebido pelo senhor José Leite Maia, um homem que aparentemente tinha subido a escadaria hierárquica do banco a pulso, e que era do Porto. Conhecia muito bem o Joãozinho. A avaliação que fiz da reunião foi "Muito Boa".

Em Outubro, já tinha voltado ao BES, que agora se chamava Novo Banco, e fui recebido por dois directores. A avaliação que dei à reunião foi "Excelente".

Em Maio de 2015 fui recebido pelo estado-maior da Caixa Geral de Depósitos no Porto, que incluía a directora-central e mais três directoras. Avaliação global da reunião: "Muito boa". Também já tinha estado no Banco Popular.

Quando me encontrei com o Dr. Fernando Nogueira, na sede da Fundação Millenium-BCP, pedi-lhe que me arranjasse uma reunião com o presidente do Banco, Dr. Nuno Amado, e que ele estivesse também presente. Três semanas depois, a reunião estava marcada. Fui eu a adiá-la porque entretanto outros problemas subitamente me ocuparam. A reunião permanece adiada até hoje.

Entretanto, já a 10 de Setembro tinha ido a Lisboa falar com o meu antigo professor e colega Carlos Costa, agora Governador do Banco de Portugal.  Ele era assistente de História da Ciência Económica na FEP quando eu frequentei a cadeira. Dois anos mais tarde, éramos colegas, ele assistente daquela cadeira e eu de Estatística.

O Dr. Carlos Costa é natural de Oliveira de Azeméis, uma terra servida pelo HSJ do Porto. Não conhecia o Joãozinho, mas interessou-se muito pelo projecto. Ele tinha sido director do BEI - Banco Europeu de Investimentos e eu ia-lhe pedir um contacto para lá. Disse-me que dada a natureza do projecto Joãozinho, o mais adequado seria o Banco do Conselho Europeu.

Eu não sabia que o Conselho Europeu tinha um banco, mas fiquei contente por saber.  Sobretudo porque o Dr. Carlos Costa ficou de me arranjar um contacto para eu ir lá pedir um "financiamento humanitário" para o Joãozinho.

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