Recentemente, a conversar com um mecenas da obra do Joãozinho, ele contou-me que a primeira vez que sentiu o valor da vida tinha vinte e poucos anos. Foi quando chegou à Guiné para combater.
Depois de se apresentarem aos comandos, ele e os outros foram cumprir as burocracias. Às tantas, viu-se sentado a uma secretária, diante de um sargento, que tratava da identificação dos militares acabados de chegar.
Foi quando o sargento lhe perguntou:
-Olhe... no caso de acontecer alguma coisa ... não vai acontecer nada!... mas no caso de acontecer alguma coisa... quem é que devemos prevenir?...
Foi a partir desse momento que ele sentiu, pela primeira vez, como a vida pode ser precária. Desde então - e ele vai agora já na casa dos setenta - o mais importante para ele era estar vivo cada dia, e aproveitar as coisas boas da vida, que são normalmente também as coisas mais importantes da vida.
Ouvi-o em silêncio e só no final disse:
-Curioso... a mim só me aconteceu aos cinquenta e tal anos...e nem sequer era a minha vida que estava em causa...
Estávamos ambos a falar da primeira vez em que cada um de nós sentiu na pele o momento da Verdade:
-Que sentido é que isto tem?
-O que é importante nisto?
-O que é que vale a pena?
-E depois?... ou foi só para isto?
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